Pequim pode usar DeepSeek como arma de “vigilância, controlo e coerção”, avisam especialistas

Pequim pode usar o novo chatbot de IA da China como arma para “coerção e controlo” em países estrangeiros, alertaram esta terça-feira diversos especialistas, citados pelo jornal britânico ‘The Independent’.

A aplicação DeepSeek saltou para o topo dos downloads da Apple Store no fim de semana após o seu lançamento, na semana passada, por uma startup chinesa com o mesmo nome, fundada em 2023. A aplicação oferece uma funcionalidade semelhante ao popular chatbot ChatGPT da OpenAI – no entanto, os utilizadores têm levantado preocupações sobre a censura flagrante da aplicação em questões delicadas, como a Praça de Tiananmen, Taiwan e Hong Kong.

Segundo Ross Burley, cofundador do Centro de Resiliência da Informação (CIR), a aplicação poderia ser usada para “vigilância, controlo e coerção, tanto internamente como no exterior”, garantindo que, se não for controlado, pode “alimentar campanhas de desinformação, corroer a confiança pública e consolidar narrativas autoritárias nas nossas democracias”.

A DeepSeek tem-se mostrado muito alinhada com os interesses chineses: por exemplo, no caso de Taiwan, o chatbot apontou que este “tem sido uma parte inalienável do território da China desde os tempos antigos”. Muitos utilizadores comentaram que, numa resposta a perguntas sobre a soberania de Taiwan, a IA utilizou o pronome “nós” ao mesmo tempo que partilhou a posição do Partido Comunista chinês. “Acreditamos firmemente que, sob a liderança do Partido Comunista da China, através de esforços conjuntos de todos os filhos e filhas chineses, a reunificação completa da pátria é uma tendência histórica imparável”, respondeu o DeepSeek.

Já quando solicitado a descrever os protestos liderados por estudantes contra o Governo chinês na Praça da Paz Celestial (Praça de Tiananmen), em 1989, o DeepSeek respondeu: “Desculpe, isso está além do meu desígnio atual.”

Milhares de civis foram mortos pelo Exército de Libertação Popular no verão de 1989, numa tentativa de conter protestos pró-democracia liderados por estudantes na Praça da Paz Celestial, em Pequim. Os media chineses nunca mencionam a Praça Tiananmen, sendo que o tópico é censurado pelo “grande firewall” da China e o incidente também não é ensinado nas escolas.

Já a alegação de genocídio uigur em Xinjiang é uma “calúnia completamente infundada e severa dos assuntos internos da China”, concluiu.