Pedidos de apoio ‘disparam’ devido ao peso da habitação no orçamento familiar, revelam associações

Em 2024, houve um crescimento de 53% dos apoios sociais da Cruz Vermelha, que poderia ser de 62% se apenas fosse considerado o auxílio em áreas como alimentação, habitação, saúde e educação, revelou esta quarta-feira o jornal ‘Público’.

Segundo António Saraiva, presidente da Cruz Vermelha, foi um aumento inferior ao do ano passado (73%), “mas não deixa de ser um aumento”. “A população migrante veio aumentar o número de pedidos de ajuda, é uma das variáveis do aumento. Mas ele vem também do número crescente de sem-abrigo e de camadas da população que já estavam em situação difícil”.

“Esta situação que a economia tem sofrido, com o aumento da inflação e das taxas de juro, veio colocar gente que já estava no limite na linha vermelha. Falamos, por isso, de sem-abrigo, de imigrantes desprotegidos e de famílias já anteriormente fragilizadas”, referiu o responsável.

No entanto, as conclusões são contestadas por outras instituições, como o Banco Alimentar contra a Fome. Segundo Isabel Jonet, “é mentira” que estejam a aumentar os pedidos de auxílio. “No nosso caso não houve, nem no de ninguém. As instituições queixam-se sempre”, salientou. “No tempo da Covid-19 recebíamos 350 pedidos por dia, hoje temos 25. Não houve aumento, mas também não houve diminuição, e isso é que é preocupante”, frisou.

“O que verificámos no ano passado foi que tivemos mais famílias mais novas, que não era costume recorrerem a este auxílio. Mas isso aconteceu porque o peso da habitação cresceu muito – representa, em alguns casos, 60% das despesas do agregado familiar”, apontou Isabel Jonet.

Rita Valadas, presidente da Cáritas Portuguesa, salientou que há um novo desafio devido ao aumento de cidadãos estrangeiros que necessitam de apoio. “Estamos mais preocupados porque são realidades de conhecimento sucessivo, não é algo que já tenhamos definido”, referiu. “Há alguns em que os problemas têm mais a ver com a inserção, o alojamento, o emprego e há muitos problemas relacionados com a língua. Temos um grande conjunto de pessoas que não estão protegidas por nada.”

No Centro Porta Amiga da AMI, no Porto, também se registou uma tendência de subida nos pedidos de apoio alimentar à instituição. “Temos sentido um aumento dos pedidos de ajuda”, disse Jéssica Silva, presidente da instituição. “E não só focado no apoio alimentar, que representa uma fatia considerável do que fazemos, mas nos apoios mais básicos, nos nossos balneários, lavandaria e rouparia sociais.”

“A maior parte dos pedidos para cabazes alimentares é de famílias portuguesas, mas no acesso a estes serviços mais básicos, se tivesse de arriscar, diria que metade dos pedidos são feitos por pessoas que não são de nacionalidade portuguesa, muitas delas em situações dramáticas”, referiu Jéssica Silva.