Parlamento do Líbano escolhe hoje novo presidente. Lugar está vago desde 2022

O Parlamento do Líbano reúne-se hoje, 9 de janeiro, para tentar eleger um novo presidente, marcando a primeira tentativa em mais de um ano de preencher a vaga deixada por Michel Aoun, cujo mandato terminou em outubro de 2022. O processo decorre num cenário político transformado pela guerra entre Israel e o Hezbollah e pela queda do aliado sírio do grupo, Bashar al-Assad.

A presidência libanesa, reservada a um cristão maronita segundo o sistema sectário do país, está desocupada há mais de 14 meses. Nenhum bloco parlamentar conseguiu até agora reunir os votos necessários para impor um candidato ou chegar a um consenso.

Este voto é particularmente significativo, pois testa a influência do Hezbollah, apoiado pelo Irão, depois de ter saído enfraquecido do recente conflito com Israel. Desde 2016, quando conseguiu eleger Michel Aoun com o apoio da aliança xiita liderada pelo Hezbollah e o movimento Amal, o grupo tinha mantido um domínio considerável sobre a política libanesa.

No entanto, mudanças regionais têm abalado esse equilíbrio. A influência da Síria, liderada por Assad, sobre o Líbano diminuiu, e o Hezbollah já não insiste na candidatura de Suleiman Frangieh, que defendia há dois anos. Fontes próximas ao grupo indicam que estão agora dispostos a apoiar uma figura menos divisiva.

Entre os nomes em destaque estão o comandante do exército, General Joseph Aoun, visto como tendo o apoio dos Estados Unidos; Jihad Azour, ex-ministro das Finanças e atualmente no Fundo Monetário Internacional; e Elias al-Baysari, diretor da Agência de Segurança Geral.

O presidente do Parlamento, Nabih Berri, já indicou que Joseph Aoun precisará de uma emenda constitucional para ser eleito, uma vez que ainda exerce funções como funcionário público. Para vencer na primeira votação, qualquer candidato precisa de 86 votos, enquanto uma segunda ronda requer apenas 65.

Apesar do otimismo expresso por figuras como o primeiro-ministro interino, Najib Mikati, que declarou esperar que “Deus queira, amanhã teremos um novo presidente”, analistas e fontes políticas alertam para a possibilidade de mais um impasse.

Nabil Boumonsef, vice-editor do jornal Annahar, afirmou que a eleição só será viável se Hezbollah e Amal apoiarem um dos candidatos, provavelmente Aoun ou Azour. “Qualquer tentativa de impor um candidato preferido pelo Hezbollah e Amal pode sufocar ainda mais o Líbano”, disse.

A votação atraiu a atenção de várias potências internacionais. Representantes da França e da Arábia Saudita encontraram-se com políticos libaneses em Beirute na quarta-feira. O enviado saudita, príncipe Yazid bin Farhan, reuniu-se com líderes locais, indicando possíveis preferências do reino.

A Arábia Saudita, outrora um dos principais intervenientes no Líbano, perdeu espaço para o Irão nos últimos anos. No entanto, o ministro saudita Faisal bin Farhan declarou em outubro que Riad nunca se afastou completamente do Líbano e sublinhou que “os países estrangeiros não devem ditar o que os libaneses devem fazer”.

Por outro lado, os Estados Unidos reafirmaram a necessidade de uma decisão soberana. Um porta-voz do Departamento de Estado declarou que “a escolha do próximo presidente é do Líbano, não dos Estados Unidos ou de qualquer ator externo”.

A crise política no Líbano é agravada por uma crise económica sem precedentes desde 2019. O país necessita urgentemente de ajuda internacional para a recuperação financeira e para reconstruir áreas devastadas, muitas delas com maioria xiita.

O Hezbollah, enfraquecido pela perda de rotas de abastecimento com a saída de Assad do poder na Síria, apelou a um apoio mais amplo da comunidade internacional para o Líbano.

A pressão também vem do clero maronita, com os bispos apelando a um “despertar nacional” para superar o impasse político.

Independentemente do desfecho da votação de hoje, o resultado será crucial para determinar o equilíbrio de poder no Líbano e o futuro de um país que continua a enfrentar múltiplos desafios internos e externos.