Parece ridículo mas não é impossível: Como poderia Trump anexar a Gronelândia aos EUA?

Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, está a reavivar o interesse americano pela Gronelândia, alimentando discussões sobre estratégias que vão desde a aquisição do território até à intensificação da presença militar na região. A ideia, que parece absurda para muitos, não é inédita e levanta questões complexas sobre soberania, diplomacia e direito internacional.

Durante a sua primeira administração, Trump já havia demonstrado interesse em comprar a Gronelândia, a maior ilha do mundo. Embora a ideia tenha sido amplamente ridicularizada, Alex Gray, ex-chefe de gabinete do Conselho de Segurança Nacional, acredita que um cenário desse tipo não está fora de questão. “Temos precedentes para explorar muitas opções,” afirmou Gray.

Historicamente, os EUA têm experiência na aquisição de territórios, como demonstrado pela compra das Ilhas Virgens Americanas em 1916 e, ainda antes, pelo controlo das Filipinas no final do século XIX. Contudo, a venda ou compra de territórios tornou-se tabu no direito internacional, dificultando a concretização de tais propostas.

A Gronelândia é atualmente uma região autónoma da Dinamarca, com ampla autonomia interna. O governo dinamarquês trata das suas relações externas e da defesa nacional, mas não reivindica propriedade total da ilha. Scott Anderson, ex-advogado do Departamento de Estado dos EUA, sublinha, em declarações ao jornal Politico: “A Dinamarca não acredita ter autoridade legal para vender a Gronelândia.”

Além disso, a questão económica representa um obstáculo significativo. Com vastos recursos minerais e hidrocarbonetos sob o gelo do Ártico, o valor potencial da Gronelândia é incalculável. O primeiro-ministro da ilha já declarou firmemente: “A Gronelândia não está à venda e nunca estará.”

Opções diplomáticas e estratégicas

Caso a compra direta seja inviável, os EUA poderiam recorrer a outros modelos, como os Acordos de Associação Livre (Compact of Free Association) existentes com Micronésia, Ilhas Marshall e Palau. Estes acordos permitem aos EUA um acesso militar exclusivo em troca de assistência financeira e defesa, garantindo também controlo sobre o envolvimento de outras potências, como a China, nos territórios parceiros.

Gray acredita que um modelo semelhante poderia aliviar a pressão sobre a Dinamarca, cujo exército ativo é menor do que a força policial de Nova Iorque. “A Dinamarca compreende que a Gronelândia alcançará a independência e sabe que não conseguirá defendê-la após essa transição,” explicou.

No entanto, qualquer movimentação que ajude a Gronelândia a distanciar-se da Dinamarca poderia gerar repercussões diplomáticas, especialmente com a Europa. Após declarações anteriores de Trump sugerindo ações militares, países como Alemanha e França emitiram alertas contra qualquer tentativa coerciva dos EUA.

Intensificar a presença militar

Se as vias diplomáticas falharem, Trump poderia optar por aumentar a presença militar americana na Gronelândia, que já abriga a Base Espacial de Pituffik, no noroeste da ilha. Esta instalação desempenha um papel estratégico nos sistemas de radar de alerta precoce do Pentágono, mas os EUA e a NATO enfrentam lacunas significativas na vigilância do Atlântico e do Ártico.

“Adicionar sensores mais sofisticados seria uma melhoria crucial,” afirmou Jim Townsend, ex-oficial sénior do Pentágono especializado em defesa no Ártico e na NATO.

Desafios geopolíticos no Ártico

O interesse pela Gronelândia não é apenas americano. Tanto a Rússia como a China têm olhado para o Ártico como uma região estratégica. A China, em particular, tem explorado pequenas nações em desenvolvimento para obter vantagens económicas e geopolíticas. “A Dinamarca e os EUA reconhecem que uma Gronelândia suscetível à coerção chinesa não é do interesse de ninguém,” disse Gray.

Com a mudança climática a abrir novas rotas marítimas no Ártico, a importância da Gronelândia no cenário global está a crescer. No entanto, a ambição de Trump de mudar a relação dos EUA com a ilha enfrenta barreiras legais, políticas e diplomáticas que podem tornar qualquer tentativa de compra ou controlo ainda mais complexa.

Embora a ideia de Trump de adquirir a Gronelândia tenha sido recebida com ceticismo, ela sublinha o crescente interesse americano na região e os desafios que isso representa para o equilíbrio geopolítico global.