Pandemia global não trava emissões de CO2. Concentração de dióxido de carbono na atmosfera atinge novo recorde

Os gases de aquecimento climático atingiram níveis recorde na atmosfera, apesar dos confinamentos globais implementados por causa da pandemia, afirmou a Organização Meteorológica Mundial (OMM) da ONU num relatório publicado esta segunda-feira.

Estima-se que tenha havido uma redução nas emissões de dióxido de carbono (CO2) entre 4,2% e 7,5% na fase inicial da pandemia, devido ao encerramento de viagens e outras atividades. No entanto, segundo a OMM, tratou-se apenas de um “pequeno sinal” na acumulação contínua de gases com efeito de estufa no ar causada pelas atividades humanas, que não compensou o resto do ano.

O relatório da OMM afirma que a média mensal de dióxido de carbono para setembro na estação de referência no Hawaii era de 411,3 ppm (parte por milhão), contra 408,5 ppm em setembro de 2019. O mesmo foi observado na estação da Tasmânia, em Austrália – um aumento de 408,6 ppm, em 2019, para 410,8 ppm este ano.

Os dados mostram, assim, que a ação humana para reduzir as emissões está mais longe do que é necessário para travar a crise climática. Os cientistas calculam que as emissões deverão diminuir para metade até 2030 de forma a limitar o aquecimento global a 1,5º C. As nações iam comprometer-se a cortar mais as emissões numa cimeira da ONU este mês, mas a reunião foi adiada por um ano devido à pandemia.

“A queda das emissões relacionada com o confinamento é apenas um pequeno sinal no gráfico a longo prazo. Precisamos de um achatamento sustentado da curva”, disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas. “Ultrapassámos o limiar global anual de 400 ppm em 2015 e, apenas quatro anos mais tarde, ultrapassámos os 410 ppm. Tal taxa de aumento nunca foi vista na história dos nossos registos”, alertou, citado pelo The Guardian.

O boletim da OMM mostra que o CO2 na atmosfera é agora 50% mais elevado do que em 1750, antes da Revolução Industrial. O dióxido de carbono retém dois terços do calor na superfície da Terra pelos gases com efeito de estufa, e este efeito de aquecimento aumentou 45% desde 1990.

O metano, que é produzido pelo gado, arrozais e exploração de combustíveis fósseis, é responsável por 17% do efeito de aquecimento. A sua concentração é agora 2,5 vezes superior aos níveis pré-industriais. Outro gás de estufa importante é o óxido nitroso, que provém do uso excessivo de fertilizantes agrícolas e das queimadas florestais. É agora 23% mais elevado do que em 1750.