Os ‘Planos de Guerra Arco-Íris: A estratégia secreta que os EUA criaram para atacar todos os cantos do Mundo num ‘mapa colorido’ (que inclui território português)

Durante as décadas de 1920 e 1930, os Estados Unidos elaboraram uma série de planos estratégicos para possíveis cenários de guerra em todo o mundo. Estes “Rainbow War Plans” (Planos de Guerra Arco-Íris) foram concebidos para enfrentar conflitos em vários frentes, atribuindo uma cor específica a cada potencial inimigo. Embora nunca tenham sido executados, os planos revelam a visão estratégica e expansionista de uma potência mundial em ascensão.

“Dia M”: o plano de guerra contra o Reino Unido

Um dos cenários mais notáveis foi o “Plano Vermelho”, que detalhava uma possível guerra entre os EUA e o Império Britânico. Este plano, assinado a 8 de maio de 1930, visava um conflito que, segundo os estrategas americanos, seria provocado por disputas comerciais. Documentos desclassificados em 1974 revelaram as 129 páginas deste plano, que previam a invasão de grandes territórios do Canadá (apelidado “Carmesim”) pelo exército americano. A operação relâmpago tinha como objetivo impedir o Reino Unido de usar os portos canadianos para transportar tropas através do Atlântico. À época, a Marinha Real britânica era a mais poderosa do mundo, com uma frota de cerca de 1.400 navios de guerra.

Atribuir cores aos inimigos

O sistema de cores surgiu em 1904, quando a Comissão de Defesa dos EUA introduziu um código para simplificar a identificação de países-alvo. Cada cor representava uma nação ou região:

  • Vermelho: Reino Unido
  • Carmesim: Canadá
  • Laranja: Japão
  • Negro: Alemanha
  • Ouro: França e colónias francesas nas Caraíbas
  • Amarelo: China
  • Verde: México
  • Esmeralda: Irlanda
  • Rubí: Índia
  • Escarlate: Austrália
  • Granate: Nova Zelândia
  • Índigo: Islândia
  • Púrpura: uma república sul-americana
  • Violeta: América Latina
  • Cinzento: América Central, Caribe ou as ilhas dos Açores.

Estes planos, baseados em cenários de conflitos limitados, pressupunham que os EUA combatessem sempre sozinhos contra um único adversário.

Japão: o foco de maior atenção

Entre os planos mais detalhados estava o “Plano Laranja”, que se focava numa guerra contra o Japão. Concebido oficialmente em 1924, previa ações como o bloqueio económico da China continental e a internação da população nipónica nos EUA, particularmente no Havai. Este plano tornou-se a base da campanha americana contra o Japão durante a Segunda Guerra Mundial.

Cenários complexos e o fim dos planos unilaterais

O “Plano Vermelho-Laranja” antecipava uma guerra em dois frentes, simultaneamente contra o Reino Unido e o Japão. Contudo, análises concluíram que os EUA não tinham recursos para sustentar tal conflito, levando os estrategas a priorizar o Atlântico.

Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial em 1939, os “Rainbow War Plans” substituíram os cenários unilaterais. Estes novos planos contemplavam guerras industriais, conflitos globais e alianças estratégicas. De acordo com Henry G. Gole, no livro The Road to Rainbow: Army Planning for Global War, 1934-1940, os cenários fictícios desenvolvidos por estudantes da Escola de Guerra do Exército foram cruciais para a rápida elaboração de estratégias realistas.

Contribuição para a vitória na Segunda Guerra Mundial

Os exercícios estratégicos abordaram questões como a reação americana a uma derrota francesa pela Alemanha, a resistência da União Soviética sem ajuda externa ou a defesa das Filipinas contra os japoneses. “Muitos dos homens que lideraram as forças americanas na Segunda Guerra Mundial aperfeiçoaram as suas capacidades de planeamento durante estes exercícios”, destaca James L. Abrahamson, em American Diplomacy. Assim, os “Rainbow War Plans” revelaram-se não apenas exercícios teóricos, mas também um contributo estratégico essencial para os esforços de guerra dos EUA.

Os planos, apesar de não implementados como originalmente concebidos, foram um reflexo da ambição e da preparação americana para lidar com conflitos globais, numa altura em que o mundo se encaminhava para a guerra total.