“Os líderes das organizações estão cada vez mais abertos e procuram proativamente programas e soluções de benefícios para os trabalhadores”, diz CEO da Paynest

Quando se celebra o Dia Mundial da Educação, que se celebra hoje, é importante sublinhar a importância da edicação financeira e da importância que esta tem para a sociedade e para as empresas.

Como é que a educação financeira contribui para empresas mais prósperas? A Executive Digest falou com Nuno Pereira, cofundador e CEO da Paynest, para perceber a importância de ter líderes e trabalhadores com uma boa literacia financeira.

 

Como é que a Paynest aborda a educação financeira dos colaboradores?

A Paynest é uma plataforma que permite aos empregadores promoverem a saúde financeira dos seus trabalhadores, através de soluções de pagamento salarial flexível e de educação financeira. Esta última é essencial para que as pessoas detenham maior conhecimento da sua situação financeira e tomem decisões de gestão, poupança e investimento mais informadas e conscientes.

Para isso, disponibilizamos três ferramentas: a primeira é um quizz para avaliar a situação financeira atual dos trabalhadores. É, habitualmente, respondido quando estes entram na aplicação da Paynest pela primeira vez, após o seu empregador lhes anunciar este benefício. O trabalhador recebe a sua classificação – que revela se está num nível mais estável ou mais desafiante – e o empregador consegue ver, na sua plataforma dedicada, qual o nível médio de toda a sua equipa, o que lhe permite compreender a real necessidade de soluções dentro desta área.

A segunda ferramenta é o acesso a conteúdos exclusivos e dedicados, criados por uma equipa de especialistas em finanças pessoais, que permitem desenvolver o conhecimento sobre a sua situação financeira de forma mais detalhada, como fazer o seu orçamento, gerir os seus rendimentos, reduzir os gastos, preparar-se para o IRS, compreender as alterações na lei, como começar a investir, entre outros.

Por fim, mas não menos importante, é o acesso individual, personalizado e confidencial a um coach financeiro. Este contacto privado permite ao trabalhador expor questões e situações que, muitas vezes, se sente constrangido de partilhar com colegas, familiares ou amigos. O coach é um profissional com experiência, credenciado, imparcial e que procura esclarecer as questões, não fazendo aconselhamento de produtos de investimento ou de poupança.

O acesso antecipado ao salário é também uma ferramenta muito relevante, pois vemos trabalhadores em situações de stress financeiro por pequenas despesas imprevistas, como um arranjo no carro ou em casa, por exemplo, que impactam o seu bem-estar e dedicação no trabalho, e nem sempre são resolvidas com a ajuda do empregador por vergonha e desconforto de fazer o pedido. Vemos que o recurso a esta solução evita a procura por créditos com juros que só acabam por piorar a situação da pessoa.

Em suma, queremos ajudar as empresas a promoverem a saúde financeira dos seus trabalhadores através da sua educação, já que muitas vezes não se trata apenas do salário que cada um ganha no fim do mês, mas da compreensão dos seus rendimentos e gastos, assim como das oportunidades de poupança e investimento que se podem gerar mesmo com pequenos valores. Pessoas mais confortáveis com a sua situação financeira serão, naturalmente, pessoas mais felizes e produtivas. As organizações que entenderem o seu papel neste desenvolvimento pessoal terão equipas mais dedicadas e comprometidas.

 

Quais são os principais desafios que os funcionários enfrentam em relação às finanças pessoais e como é que a empresa pode ajudar a superá-los?

Apesar de perto de 45% dos portugueses ter ensino superior até 2030, Portugal continua a ser dos piores países na União Europeia a nível de literacia financeira, ficando apenas atrás da Roménia. Quer isto dizer que, até mesmo as novas gerações com um melhor nível de formação apresentam uma falta de preparação para lidar com as questões financeiras, não detendo o conhecimento necessário para compreender a sua situação financeira e tomar decisões informadas e conscientes para a melhorar.

Assim, muitas vezes a perceção é que se tem uma melhor saúde financeira quanto melhor é o seu salário. O que não está necessariamente correto. Ainda que um rendimento superior seja, naturalmente, mais vantajoso, tal não significa que uma pessoa com um rendimento mais baixo não consiga investir pequenas quantias de forma informada ao ponto de gerar uma riqueza futura relevante para os seus anos de reforma, por exemplo, ou que uma pessoa com maior salário tenha uma situação financeira saudável.

Vejamos o exemplo dos jogadores profissionais de futebol: estima-se que 40% dos futebolistas profissionais vão à falência cinco anos após reformarem-se e que muitos mais têm dificuldades financeiras na vida adulta.

Na Paynest, trabalhamos com empresas com diferentes perfis de trabalhadores, mas as questões levantadas, quer nas sessões de “onboarding”, quer através do serviço de coaching financeiro, são muito semelhantes: estão relacionadas com a redução de gastos regulares – como o dos transportes, por exemplo -, escolha de melhores seguros e outros serviços obrigatórios, dicas de poupança e esclarecimento sobre produtos de investimento, como os PRR, os certificados de aforro, entre outros.

Nestes aspetos, é difícil que um empregador consiga ajudar individualmente cada colaborador, por vários motivos. Por um lado, é preciso que o trabalhador esteja confortável para debater estes temas com alguém de recursos humanos ou da área financeira e revelar alguma fragilidade e desconhecimento. Por outro, ainda que o primeiro ponto não se verificasse, a própria empresa teria dificuldade em conseguir ter recursos com este conhecimento e disponível para fazer este acompanhamento. Procurar soluções que consigam responder a estas preocupações pode ser realmente diferenciador para o bem-estar e saúde financeira dos trabalhadores.

Além disso, há ainda o desafio do pedido e gestão de adiantamentos salariais. Todos temos, em alguma altura do ano, que lidar com situações imprevistas, que representam um custo que, até sem ser muito avultado, pode já não encaixar no salário daquele mês. Esta situação coloca-nos em situação de stress e são avaliadas várias opções – uma delas é o pedido de adiantamento ao empregador de parte do salário daquele mês. Contudo, este pedido é muitas vezes desconfortável, pois põe um colaborador numa situação vulnerável, além de ser moroso e passar por aprovações internas. Ao automatizarem este processo, as empresas podem transmitir maior tranquilidade às suas equipas e mostrarem-se disponíveis para as apoiar em fases mais difíceis da sua vida sem transmitir uma sensação de invasão ou julgamento.

 

Em que medida a educação financeira é integrada aos programas de benefícios e bem-estar dos funcionários?

Hoje, vemos que os líderes das organizações, independentemente do seu setor, estão cada vez mais abertos e procuram proativamente programas e soluções de benefícios para garantir o bem-estar dos seus trabalhadores. A escassez de talento é um dos principais incentivos para esta procura, seguida da preocupação com o bem-estar da equipa e o consequente impacto na atividade da organização. Repito muitas vezes a frase de Richard Branson: “Se cuidar dos seus trabalhadores, eles cuidarão dos seus clientes”, porque acredito que a equipa tem realmente um grande impacto no desempenho de uma empresa. E os líderes estão preocupados com todas estas vertentes.

Neste sentido, a pandemia veio despertar a urgência de abordar temas tabu como é a saúde mental e, hoje, é um tópico mais democratizado e que está nas prioridades de todas as empresas. Acreditamos que a saúde financeira irá fazer o mesmo percurso. Todos aprendemos que não se deve falar de dinheiro à mesa e evitamos falar de valores com amigos e familiares, mas isso só veio limitar a nossa evolução enquanto pessoas e profissionais e bloquear o potencial de geração de riqueza que todos, no mais abrangente leque de rendimentos, temos.

Assim, não vemos a Paynest como uma substituição de outros programas que promovem o bem-estar físico e mental, que consideramos muito relevantes, mas como um suplemento a esses programas, para que o empregador se posicione de forma mais holística e completa no desenvolvimento de trabalhadores capacitados e mais resilientes para um mercado em constante mudança.

 

Como é que  a empresa avalia o impacto da educação financeira na satisfação e desempenho dos colaboradores?

A disponibilização de ferramentas como a da Paynest têm um impacto positivo no bem-estar individual e na performance da empresa a vários níveis.

Enquanto organizações, além do foco na equipa, têm que ter um grande foco nos resultados da sua atividade, que, por sua vez, está muito dependente da produtividade dos trabalhadores e na capacidade de atrair e reter talento. Especialmente, quando assistimos a níveis históricos de escassez de talento – segundo um estudo do ManpowerGroup, 84% dos empregadores portugueses têm dificuldade em preencher as vagas que lançam para o mercado.

Assim, do ponto de vista da atração, dados revelam que 75% dos colaboradores têm em consideração os benefícios dados pelas empresas quando ponderam aceitar uma oferta de trabalho, e um dos benefícios mais valorizados é o da formação e desenvolvimento pessoal e profissional.

Outro aspeto importante para os gestores de empresas é o da retenção, já que a perda de um trabalhador tem um grande impacto na sua operação – um valor equivalente a 6 a 9 meses de salário, de acordo com o The Employee Benefit Research Institute -, dado o tempo necessário para encontrar um novo perfil, formá-lo e conseguir que este esteja no mesmo nível de desempenho que o trabalhador que saiu. A implementação de soluções de saúde financeira permitem reduzir a rotatividade de colaboradores até 20%, o que representa uma poupança equivalente a 5 a 8% dos custos com um salário base.

Também a produtividade é altamente impactada, já que o stress financeiro prejudica o foco do trabalhador no seu dia-a-dia – 80% dos trabalhadores assume que o stress financeiro reduz o seu nível de produtividade, de acordo com The  Society of Human Resource Management (SHRM). Assim, é possível gerar-se um aumento na produtividade não só destes colaboradores, mas também das próprias equipas de recursos humanos que não têm que dedicar tempo na gestão e processamento de pedidos de adiantamento e conciliação de salários.

Por fim, mas não menos importante, a promoção da educação financeira enquadra-se na componente Social das estratégias de ESG que as empresas estão cada vez mais empenhadas em adotar.

 

E qual a importância da educação financeira num líder? Os líderes portugueses têm as competências necessárias?

Uma pessoa com uma literacia financeira elevada compreende como gerir o seu dinheiro – desde fazer o orçamento anual familiar a distribuir o rendimento por gastos, poupança e investimento.

Um líder que detenha esta competência compreende o impacto que ela tem atualmente e que terá na sua vida futura, e, por isso, estará mais desperto para a importância de apoiar a sua equipa no desenvolvimento deste conhecimento. Não se trata de uma questão salarial – como vimos acima, um salário mais baixo pode gradualmente gerar uma riqueza futura que contribua para uma reforma mais confortável e um salário mais elevado pode não ser devidamente aproveitado e gerar um futuro menos tranquilo. Trata-se de despertar as pessoas para as oportunidades que estão ao seu alcance e consciencializá-las para o impacto que as suas escolhas hoje poderão ter no longo prazo.

Por isso, acredito que ter um líder com bom conhecimento financeiro e que queira ter um impacto positivo na vida dos seus trabalhadores pode ser realmente importante e diferenciador.

Os clientes com os quais trabalhamos atualmente têm demonstrado esta preocupação e vontade de desenvolver a sua força de trabalho, através da capacitação financeira. Compreendem o impacto do stress financeiro no bem-estar individual e veem a nossa solução como uma forma de colmatar uma das principais origens desse stress: o desconhecimento. Por isso, acho que, mesmo que os líderes portugueses não detenham essa literacia – como, idealmente, todos possuiríamos -, estes estão cada vez mais despertos para a sua importância.

 

Que conselhos deixaria aos líderes empresariais para promover a saúde financeira das empresas e dos colaboradores?

Ter colaboradores mais capacitados na área financeira deve ser visto como uma oportunidade para a empresa e não como uma ameaça. Trabalhadores que compreendam a sua situação financeira e que sejam capazes de a gerir para conseguir cobrir os gastos, assegurar poupanças e até investir serão mais focados, produtivos e comprometidos com a empresa.

Ao mesmo tempo, é essencial que a adoção de soluções como a da Paynest não seja uma ação isolada, mas que se enquadre numa postura geral da empresa de abertura aos temas financeiros. É verdade que evitamos a exposição de fragilidade do trabalhador, mas isso não deve servir para fechar por completo a porta da equipa de recursos humanos ou financeira, caso a pessoa pretenda ou necessite abordar um tema pessoalmente. O dinheiro tem que deixar de ser tabu e as empresas devem promover uma abertura para conversas construtivas à volta dele.

Por fim, e porque as empresas não têm, geralmente, recursos para fazer um acompanhamento individual devido, acredito que a implementação de soluções como a da Paynest pode colmatar uma fragilidade dos trabalhadores e ter impactos positivos a longo prazo no bem-estar da equipa, mas na performance da empresa como um todo, já que também as equipas de recursos humanos e gestão de talento podem focar-se em temas de maior impacto, em vez de despenderem inúmeras horas na gestão e processamento de pedidos e acompanhamento deste tipo de questões.

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