“Os chefes dos nossos exércitos já estão a preparar planos”: Países europeus debatem envio de tropas para a Ucrânia

Os países europeus estão a explorar a possibilidade de enviar milhares de tropas para a Ucrânia numa eventual fase pós-guerra, caso seja alcançado um cessar-fogo ou acordo de paz. A proposta está a ser liderada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, numa tentativa de garantir a segurança do país após o conflito. No entanto, a ausência de envolvimento direto dos Estados Unidos nesta iniciativa levanta questões sobre a capacidade da Europa para sustentar tal missão sem o apoio americano.

De acordo com a agência Reuters, as negociações ainda estão nas fases iniciais. No entanto, Macron tem pressionado para que os países europeus assumam um papel preponderante nesta questão, em especial considerando as posições assumidas pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que já declarou não enviar tropas americanas para o terreno.

“Mesmo que existisse uma garantia de segurança da NATO, de onde viria o ímpeto no terreno? Teriam de ser países europeus, então os chefes dos nossos exércitos já estão a preparar planos para os líderes europeus considerarem no futuro”, revelou uma fonte diplomática europeia.

Entre os países que poderiam participar no destacamento incluem-se França, Alemanha, Itália, Polónia e Reino Unido. A missão, que poderia envolver dezenas de milhares de soldados, teria como objetivo reforçar a segurança ucraniana, quer através de operações de manutenção da paz, quer como força dissuasora contra novas ofensivas russas.

Apesar de ser ainda uma proposta embrionária, o plano já gerou divisões significativas entre os líderes europeus. Uma das questões centrais é quem irá liderar esta força e sob que mandato atuará. Há quem defenda que a missão deveria operar sob a bandeira das Nações Unidas, mas outros alertam que tal solução poderia dar à Rússia, membro permanente do Conselho de Segurança, um controlo excessivo sobre a operação.

O ministro da Defesa italiano, Guido Crosetto, afirmou que uma solução sob a égide da ONU seria viável, mas outros analistas destacam os riscos de envolver diretamente a Rússia neste processo. Além disso, os líderes estão preocupados com a possibilidade de a missão abrir caminho para uma escalada do conflito, caso as tropas europeias se vejam envolvidas em confrontos diretos com as forças russas.

O presidente polaco, Andrzej Duda, afastou a hipótese de enviar soldados polacos para a Ucrânia, uma posição reforçada após um encontro com Macron em Varsóvia. Na Alemanha, o ministro da Defesa, Boris Pistorius, reconheceu a disposição do país em ajudar a garantir um cessar-fogo, mas sublinhou que ainda é cedo para determinar o formato ou a dimensão de uma missão desta natureza.

A ideia foi bem recebida pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que pretende discutir o tema numa reunião agendada para esta quarta-feira, em Bruxelas, com líderes europeus e o secretário-geral da NATO, Mark Rutte. Contudo, Rutte advertiu recentemente para a necessidade de abordar estas questões com cautela, sublinhando que discussões abertas sobre destacamentos futuros poderiam desincentivar Moscovo de negociar.

“Se estás a discutir tudo isto de forma pública, porque é que Putin se sentaria à mesa? Ele está a conseguir o que quer”, afirmou Rutte numa declaração recente.

Dimensões da força e implicações
Segundo analistas, a dimensão e composição de uma força europeia dependeriam amplamente do seu mandato. Estimativas iniciais apontam para cerca de 40.000 soldados, embora, com rotações, até 100.000 tropas possam ser necessárias. Estas operações colocariam uma pressão significativa sobre os exércitos europeus, já afetados por anos de dependência dos Estados Unidos e pelo envio de armas e equipamentos para apoiar a Ucrânia.

Franz-Stefan Gady, analista do International Institute for Strategic Studies, destacou que tal operação exigiria a reconfiguração de missões existentes, como as operações de manutenção da paz nos Balcãs. “Vai esticar severamente as forças terrestres europeias, com certeza”, afirmou.

Os desafios logísticos incluem ainda a necessidade de regras claras de engajamento. “O que aconteceria se um soldado europeu fosse alvejado?”, questionou um oficial militar francês.

Apesar de os debates continuarem, uma questão central persiste: o papel dos Estados Unidos. Embora Trump tenha descartado o envio de tropas, espera-se que os EUA contribuam com inteligência e apoio operacional. No entanto, convencer Washington a desempenhar este papel será mais um obstáculo para os líderes europeus.

Com as negociações ainda numa fase preliminar, o futuro de uma possível missão europeia na Ucrânia permanece incerto, mas é claro que qualquer decisão terá implicações profundas tanto para a segurança do continente como para a dinâmica da guerra.