Os 20% das famílias mais ricas de Portugal são responsáveis por mais de metade da poupança no país
Uma análise baseada nos microdados do Inquérito às Despesas das Famílias 2022–23 (IDEF 2022), divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) em junho de 2024, revela uma distribuição desigual da poupança em Portugal.
O estudo, que analisou dados de 11.700 famílias, define a poupança como a diferença entre o rendimento total e as despesas de consumo, considerando tanto componentes monetárias como não monetárias, como autoconsumo e autoavaliação do valor de rendas em casas próprias.
De acordo com uma análise de Nuno Alves, Fátima Cardoso, João Bonito Gomes e Carlos Melo Gouveia, do Departamento de Estudos Económicos do Banco de Portugal, os valores do inquérito apresentam algumas limitações, com poupanças sobreavaliadas em relação às contas nacionais devido a erros de medição típicos deste tipo de levantamentos.
Os resultados mostram que as famílias nos dois decis mais altos de poupança concentram cerca de dois terços da poupança total. Em contraste, os dois decis inferiores registam poupança negativa, evidenciando dependência de crédito ou riqueza acumulada para cobrir despesas. Quando analisadas por rendimento, a desigualdade persiste: os 20% mais ricos geram 55% da poupança total, enquanto as famílias no decil de rendimento mais baixo gastam mais do que recebem.
Este fenómeno reflete o impacto de padrões básicos de despesa e a capacidade de adaptação ao rendimento. Embora as despesas aumentem com o rendimento, a disparidade entre estas duas variáveis traduz-se em taxas de poupança mais altas entre as famílias de maior rendimento.
A teoria económica do ciclo de vida sugere que a poupança cresce durante a vida ativa, à medida que o rendimento aumenta e o endividamento diminui. Na idade da reforma, os níveis de poupança tendem a depender de fatores como as regras de segurança social e o desejo de poupar para o futuro. Os dados do IDEF 2022 indicam que as famílias com mais de 64 anos continuam a apresentar taxas de poupança elevadas, contribuindo quase tanto para a poupança total quanto as famílias entre os 45 e 64 anos.