OCDE: Bolsa de Lisboa perdeu 91 empresas entre 2000 e 2018

A bolsa portuguesa perdeu 91 empresas entre 2000 e 2018, de acordo com dados recolhidos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), devido principalmente a alterações nas estruturas acionistas.

De acordo com o relatório da OCDE intitulado “Mobilizar o mercado de capitais português para o investimento e o crescimento”, apresentado hoje, “quase todas as saídas foram iniciadas pelos acionistas existentes ou através de uma mudança na estrutura acionista”.

“A maioria das saídas de bolsa por empresas portuguesas teve lugar antes da crise mundial de 2008. A ‘imagem’ é semelhante para empresas não financeiras, com 41 de 51 empresas a sair de bolsa entre 2000 e 2007. Desde então houve 10 saídas”, segundo o relatório.

De 16 empresas que saíram de bolsa, a principal razão para terem ingressado no mercado de capitais inicialmente foi “a diversificação de fontes de financiamento”.

“Depois da diversificação, baixar o custo do capital foi classificado como importante por 13 empresas”, e além destas duas razões, a “visibilidade e prestígio, melhor acesso a recursos dos mercados de capitais e geração de capital novo para financiar o crescimento, e maior monitorização externa”, foram também algumas das razões apontadas por mais de metade das empresas.

Já a saída, entre as 14 empresas que responderam a essa questão específica, dez saíram depois de uma resolução e quatro depois de uma fusão ou aquisição.

“A baixa liquidez foi mencionada por 10 empresas como um fator importante para a saída de bolsa. De facto, todas exceto uma empresa que saiu devido a uma resolução de acionistas mencionou a baixa liquidez como um fator importante na sua saída”, pode ler-se no documento.

Já o segundo fator mais importante “foi o interesse insuficiente dos investidores e reconhecimento”, dado que “enquanto 40% das empresas que saíram de bolsa mencionaram os custos de conformidade como uma razão importante para a sua decisão de saída, com apenas 20% a mencionarem taxas”.

“As empresas não consideraram dificuldades financeiras como sendo relevantes na sua decisão de saída”, mas “é importante mencionar que a maioria da saídas portuguesas ocorreram no período anterior à crise financeira de 2008”, segundo a OCDE.

De acordo com a organização internacional, apesar de quer antes quer depois da crise as empresas serem “similares em termos de tamanho, em média, as empresas que saíram de bolsa posteriormente têm menor prestação e maior endividamento a longo prazo comparado com aquelas que saíram durante o período pré-crise”.

Para as empresas que saíram antes da crise, registaram-se “menores níveis de dívida comparado com as empresas cotadas, tanto em termos de dívida a curto e a médio prazos”.

“Relativamente ao custo da dívida, as empresas não cotadas tinham um custo de dívida dois pontos percentuais acima das novas empresas em bolsa, e um ponto percentual acima face às empresas que já estavam em bolsa anteriormente”, pode também ler-se no documento.

No que diz respeito à liquidez, “com um rácio de transformação de 2%, as ações das empresas que saíram de bolsa eram significativamente menos líquidas do que as ações das novas empresas (42%) e das já estabelecidas (111%)”.

O inquérito realizado pela OCDE revela também que “saídas involuntárias, ‘insolvência/liquidação’, e ‘devido a regulação do mercado’ foram bastante insignificantes” no que concerne aos motivos para saída de bolsa.

O documento adianta ainda que “das 91 empresas que saíram da Euronext Lisbon [Bolsa de Lisboa] durante o período 2000-2018, 52 ainda estão ativas, dado que a maior parte delas saíram de bolsa devido a uma aquisição ou uma resolução dos acionistas”.

“Em particular, 18 das 22 empresas que cujas ações se tornaram privadas depois da crise financeira de 2008 ainda estavam ativas em 2018”, segundo o documento elaborado pela OCDE.