O que está realmente por detrás do misterioso ‘novo’ vírus que assola a China e o mundo

Poucos dias depois das celebrações do Ano Novo, surgiram notícias de um aumento do número de casos de um novo tipo de vírus: uma doença respiratória com sintomas semelhantes aos da gripe ou constipação começou a fazer aumentar nas províncias do norte da China, especialmente entre as crianças abaixo dos 4 anos. Começaram a surgir relatos de hospitais sobrelotados, unidades de cuidados intensivos sobrecarregadas e novas medidas de monitorização – as preocupações aumentaram ainda mais quando surgiram sinais de que se tinha espalhado o surto.

Foram relatados casos na Índia, na Malásia e no Cazaquistão: esta terça-feira, alguns relatórios, indicou o jornal britânico ‘The Independent’, apontaram que os casos nos EUA tinham duplicado para 300. Já no Reino Unido, uma estirpe particularmente grave de gripe e outras doenças respiratórias parece estar por todo o lado.

À superfície, ressoa às notícias desconfortáveis de há cinco anos, quando surgiu o rumor de um surto de um vírus assassino na China. Todos sabem o que aconteceu a seguir: bastaram poucas semanas para todos estarmos familiarizados com o seu nome, com casos a surgirem por toda a Europa. Passou pouco tempo para o mundo ficar bloqueado. Cinco anos volvidos, estamos mais alerta a manchetes sobre um ‘vírus’ na China.

Mas quão preocupados devemos realmente estar?

Pelo princípio: ao contrário da Covid-19, o que está a acontecer na China não é um vírus novo, é o metapneumovírus humano (HMPV), um vírus descoberto nos Países Baixos em 2001. Na verdade, a maioria das pessoas irá contraí-lo antes de atingirem os 5 anos – de acordo com os investigadores, estima-se que entre 10 e 12% das doenças respiratórias nas crianças são causadas pelo HMPV. Também não é tão infeccioso como o coronavírus (o seu período de incubação é de três a seis dias) nem tão grave, apesar das imagens que chegam da China.

As taxas de mortalidade são muito mais baixas e os sintomas são sobretudo tosse, febre, congestão nasal e fadiga. No entanto, embora a maioria dos casos seja ligeira, por vezes pode causar infeções respiratórias inferiores, como pneumonia e, mais frequentemente, provocar um surto em condições como asma ou doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) – e atualmente não existe vacina ou tratamento antiviral para HMPV.

Não é surpreendente que os casos de HMPV aumentem mais rapidamente no inverno e na primavera de cada ano – algo que os especialistas enfatizam vivamente. No Reino Unido, não é difícil notar que mesmo os mais resistentes entre nós parecem estar a ser vítimas de “o que quer que esteja a fazer as rondas”.

“Penso que parte do que está a contribuir para esta preocupação é o viés de atualidade, o facto de a Covid-19 ter começado na China – as pessoas estão a olhar e a ver o que é potencialmente discriminação, ou potencialmente este medo do desconhecido novamente; de algo que parece poder escalar e tornar-se outra pandemia”, sustentou Simon Williams, cientista comportamental, investigador de saúde pública e professor de psicologia na Universidade de Swansea, que também trabalhou como consultor para a OMS.

O especialista referiu que tem havido muitas outras pandemias potenciais – a gripe aviária nos EUA, por exemplo, tem um risco muito maior do que o HMPV representa atualmente; nas últimas semanas, um novo vírus “misterioso” que suscitou um medo semelhante na República Democrática do Congo revelou ser malária. São necessários cuidados e informações adicionais antes da especulação, concluiu.

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