O Orçamento do Estado e as Empresas: Ricardo Costa, CEO do Grupo Bernardo da Costa
Concorda com a proposta de Orçamento do Estado para 2025? Porquê?
No geral, considero a proposta de Orçamento do Estado para 2025 positiva, no entanto falta-lhe ambição, sobretudo no que se refere à redução da carga fiscal, em especial no IRS. É indiscutível que o Governo apresenta um compromisso em promover o crescimento económico, mas parece-me que perdeu uma oportunidade para aliviar o peso dos impostos sobre as famílias. Diminuir o IRS de forma mais arrojada permitiria aumentar o rendimento disponível dos portugueses, estimulando o consumo e, por consequência, beneficiando o sector empresarial. Sinto que esta cautela excessiva pode, a médio prazo, restringir o próprio crescimento económico que se procura garantir.
A que nível impacta o seu sector?
Para o nosso sector, vejo neste orçamento um impacto que tem potencial positivo, mas com limitações. A redução do IRC de 21% para 20% é um gesto, mas parece tímido. A verdade é que esta redução é pouco significativa quando olhamos para os desafios que as empresas enfrentam e para o que se pratica em outros países europeus. Sim, é um passo, mas os sectores que dependem fortemente de inovação e competitividade, como o nosso, beneficiariam imensamente de incentivos mais fortes ao investimento em tecnologia e capital humano. Medidas como estas são cruciais para a sustentabilidade e o crescimento a longo prazo. Falta aqui uma visão mais “ousada” que promova a modernização da nossa indústria, especialmente em tempos de transformação digital e concorrência global.
Este é um OE que serve os interesses das empresas?
Este orçamento inclui medidas que, de certa forma, tentam apoiar as empresas, mas a questão é saber se realmente as serve de modo efectivo. Há alguns sinais de progresso, como a pequena redução do IRC e os incentivos para valorização salarial e capitalização das empresas, mas ainda fico com a sensação de que são insuficientes. Precisamos de uma simplificação tributária mais corajosa e de um corte sério na burocracia, que muitas vezes suga a energia das empresas e trava o investimento. Não basta atirar medidas soltas – desculpem a frontalidade – o que precisamos é de uma reforma fiscal sólida e profunda, que simplifique processos e promova um ambiente económico estável e previsível. É frustrante ver que este Orçamento parece ainda hesitar em fazer mudanças que, de facto, poderiam transformar o ambiente empresarial em Portugal. Parecem-me mudanças “politicamente correctas”, apenas.