“O Minho é, factualmente, o motor da economia do país”, afirma Ramiro Brito, Presidente da AEMinho
A Associação Empresarial do Minho (AEMinho) desempenha um papel crucial no desenvolvimento económico, social e cultural da região do Minho.
Surgindo da necessidade de representar o tecido empresarial minhoto perante os decisores políticos e de actuar como agente de desenvolvimento regional, a AEMinho trabalha para promover um ambiente favorável à competitividade e ao progresso sustentável.
Passamos pelo Arco da Porta Nova em Braga e mergulhámos na multidão até chegar ao Largo do Paço, em pleno coração da cidade dos Arcebispos, onde nos encontramos com Ramiro Brito, presidente da AEMinho. As portas da Sala da Reitoria da Universidade do Minho abriram-se e sentamo-nos para explorar a importância das empresas da região para a economia nacional, as dificuldades que enfrentam, e os principais sectores que impulsionam o Minho. Ramiro Brito partilha, ainda, a sua visão sobre os líderes empresariais locais e o papel fundamental que desempenham na criação de um futuro próspero para a região.
Como analisa o tecido empresarial da região do Minho?
Sou convicta e orgulhosamente minhoto. O Minho é, factualmente, o motor da economia do País, isto porque temos uma diversidade e multiplicidade empresarial em termos de áreas de negócio e criação de valor, que não há paralelo em mais nenhuma região do País. Temos empresários e empresas que, daqui, partiram para o mundo e são exemplo de processos de internacionalização bem-sucedidos, temos construção, indústria têxtil, agricultura, o vinho Verde.
Acredito nas nossas gentes, e o nosso tecido empresarial é o espelho da nossa sociedade. Somos resilientes, empreendedores, e com isso construímos um tecido empresarial reconhecido dentro e fora de portas como sendo extremamente rico, diversificado e resiliente.
Mas, também com os seus desafios!
O Minho tem enormes desafios. O primeiro, para mim o maior, é ser o Minho, ou seja, tem uma identidade que ainda está repartida em dois pólos principais, Braga e Viana do Castelo. Uma das premissas, quando fundámos a AEMinho, foi perceber e passar esta mensagem que o Minho tem de se unir para se solidificar e cimentar a sua diversidade. O primeiro desafio será colocar Braga e Viana do Castelo na mesma mesa para delinearem estratégias em conjunto.
O segundo reconheço-o aqui e em todo o país: temos muito a cultura do minifúndio. Portugal é um país constituído maioritariamente por pequenas empresas e, aqui, sendo uma região muito exportadora, temos de ter escala e dimensão. A única forma de o conseguir é concretizar aquilo que para mim é o grande desafio do século XXI, o ser humano perceber que só tem a ganhar a cooperar em vez de competir.
O terceiro seria conseguirmos afirmar-nos numa conjuntura nacional onde tendencialmente a economia é vista a partir do Terreiro do Paço, mas isto não é apenas sentido no Minho.
E sentem que as autarquias têm essa mesma visão?
As autarquias têm essa sensibilidade, mas gerem ciclos eleitorais.
Uma das razões pelas quais queremos sentar Braga e Viana do Castelo à mesa é mostrar que, por exemplo, não existem empresas de Braga, isto porque a maior parte dos trabalhadores não são de Braga. E isso acontece também em Viana do Castelo. Se não evidenciarmos esta dimensão regional integrada, não vamos conseguir avançar.
Temos de reformar muitas mentalidades, e temos de perceber que o nosso sistema não é mau, é antigo. Os sistemas políticos, as organizações administrativas, fazem sentido em determinados contextos, e temos muitas dificuldades, enquanto País, enquanto sociedade política e administrativa, em acompanhar a evolução dos tempos.
E do lado de fora, como é que os outros países vêem as empresas do Minho?
A AEMinho é assumidamente pelo networking e pela criação de condições para o crescimento empresarial.
As empresas do Minho são tradicionalmente bem recebidas para os países onde vão. Passei por processos de internacionalização e tenho experiência própria nisso. E isso deve-se principalmente à nossa capacidade de adaptação. Somos de fácil trato, somos humildes, uma humildade que não é diminuidora, mas sim a fonte da nossa grandeza. E o mundo tende a receber-nos de braços abertos.
Em que podemos ajudar? Temos uma comunidade empresarial que é o exemplo de que todos juntos somos mais fortes. Temos inclusive associados de fora da região como a Salvador Caetano, PWC, KPMG, Deloitte, BPI, seguradoras, entre outras. Isto para dizer que a nossa capacidade de juntar, de unir, de congregar, atraiu empresas de fora do Minho, porque acharam que esta comunidade fazia sentido, e que ali há um valor acrescentado e um grande potencial para elas.
Quando olhamos lá para fora, utilizamos os canais diplomáticos possíveis e criamos canais alternativos. Pegamos na soma daquilo que é o património de contactos dos nossos associados e partilhamos. Isto é networking puro. Este é o fim maior da AEMinho.
Existimos para criar networking, promover o crescimento empresarial, isto porque sentamos as pessoas na mesma mesa e pomo-las a falar umas com as outras, usando a associação como uma plataforma de confiança.
Temos ainda outro pilar que é muito importante para nós, o lobby positivo, ou seja, posicionamo-nos tradicionalmente perto das fontes de poder para podermos influenciar positivamente.
E com a entrada em funções do novo Governo, o que esperam e o que é necessário para as empresas da região?
Esperamos que haja um maior, mais seguro e equilibrado respeito pelo País. De todos os agentes políticos. E como? Há uma interpretação errada dos políticos sobre o voto, que é a manifestação da vontade do povo. E em Portugal o povo mostrou nas urnas que quer uma conjuntura em que os partidos se fiscalizem, que cooperem para encontrar soluções para o País.
Espero que o Governo possa dar o passo para algo que é completamente inédito desde o 25 de Abril, termos em relação a matérias essenciais do Estado um pacto de regime, ou seja, conseguir sentar os dois maiores partidos na mesma mesa para estabelecerem que em determinadas questões de saúde, fiscalidade, justiça e segurança, haveria um compromisso de estabilidade.
E a atracção de investimento?
Isso é determinante. A região do Minho tem, do ponto de vista geopolítico e demográfico, todas as condições para ser um pilar de investimento em Portugal, por vários motivos, como por exemplo a acessibilidade e a qualidade de vida.
No entanto, há várias coisas que precisam de ser resolvidas, e uma delas vai ser a tónica da AEMinho nos próximos três anos, que é a produtividade. Temos de subir os salários em Portugal, os empresários têm de conseguir pagar mais, mas não o vão conseguir fazer se não tiverem mais dinheiro. Somos um dos países menos produtivos da União Europeia e da OCDE.
Temos claramente em Portugal um problema de produtividade. A produtividade é, na verdade, o que nos leva ao caminho da eficiência, ou seja, temos de perceber, os empresários, como criar processos produtivos que permitam aos nossos colaboradores trabalhar menos para produzir mais.
Esse é o caminho para termos melhores salários, mais qualidade de vida e mais progresso social em Portugal.
E como é que isto está relacionado com a atracção de investimento? Podemos juntar a todas as características que o Minho já tem para atrair investimento, o facto de ser uma região excelente para trabalhar, e só o consegue se pagar salários aos níveis da Europa. Para além disso, temos outro factor, que é o peso do Estado na economia. Temos uma carga fiscal que é excessiva, brutal, castradora para a economia, mas temos um problema: Não chega para pagar o que o Estado custa. Isso é o que mais preocupa. O Estado é profundamente dependente dos contribuintes, e ainda assim gasta mais do que aquilo que consegue arrecadar.
O nosso sistema fiscal tem um problema base de perceptibilidade. Se perguntar a qualquer contribuinte, seja empresário ou contribuinte individual, se ele entende e quantifica com rigor todos os impostos que paga, directos e indirectos, ele não consegue. O sistema é complexo para ser imperceptível. Mais importante ainda para a atracção de investimento seria a previsibilidade fiscal, que é algo que não existe no nosso País.
Como define os líderes do Minho?
Nós, líderes empresariais do Minho, também temos um percurso a fazer. Somos líderes arrojados, destemidos e extremamente resilientes, no entanto, ainda somos líderes isolados no nosso quintal, temos dificuldade em sentar a uma mesa e fazer uma cimeira de líderes.
Se me pedissem para definir numa palavra o que falta aos líderes do Minho, diria: cooperação.
O resto eles têm, a capacidade de investimento, resiliência, inteligência e emocional e económica para investir em sectores estruturais, capacidade para liderarem os trabalhadores e as equipas.
Somos humanistas, o que não é fácil numa região com o histórico empresarial que ela tem, mas continuamos a sentarmo-nos à mesa e a olhar para o outro empresário como concorrente e não como parceiro. Esse é o nosso maior desafio.
E quais as expectativas para o futuro?
Sintetizei toda a minha candidatura numa frase: Eu vim acrescentar. Essa é a grande missão da minha equipa.
Queremos conseguir acrescentar nas diversas dimensões que vamos trazer a debate, e os nossos objectivos são sermos actuais, estar na ordem do dia, conseguirmos dar resposta áquilo que são as necessidades de intervenção das empresas, ter uma comunidade empresarial mais forte e coesa no final do mandato, e também conseguir que o tecido empresarial cresça, empregue mais pessoas, gere mais riqueza e contribua mais para o País.