O Estado Islâmico está de volta após ataque em Nova Orleães: o que motiva este regresso?

Confirmando-se as ligações do bombista suicida de Nova Orleães (EUA) ao Estado Islâmico, a tese do que há muito anunciavam o regresso do Daesh está reforçada, uma década depois do fiasco do seu “califado”, lembrou esta sexta-feira o jornal espanhol ‘ABC’.

Nessa altura, o movimento jihadista criou um Estado fundamentalista – mais radical do que o do Irão ou o dos Talibã – em território conquistado no Iraque e na Síria, e localizou a sua capital em Raqa. Apesar de ter o seu próprio feudo, o Daesh não diminuiu o seu apelo à jihad – a guerra santa global do Islão contra o mundo não-muçulmano – com o mesmo tom apocalíptico de outros grupos terroristas como a Al Qaeda.

Após a queda do ‘califado’ e a quase eliminação do grupo, o Estado Islâmico reapareceu em 2024 com ataques notórios em vários países. O primeiro foi em Teerão, durante o funeral do general Soleiman, para recordar o caráter sunita da sua ideologia jihadista, inimigo mortal do xiismo que considera herético.

Depois vieram outros ataques: uma igreja católica em Istambul, um concerto em Moscovo e agora o ataque em Nova Orleães. Mais tentativas de ataques foram frustradas em 2024 pelos serviços de informação ocidentais.

O que mudou no mundo muçulmano para dar ao Daesh o vento a seu favor? Sem dúvida a guerra de Gaza. O conflito, com dezenas de milhares de civis palestinianos mortos e o território devastado, serve os jihadistas para espalhar o slogan de que “para os ocidentais, a vida de um muçulmano tem menos valor do que a deles”. Este sentimento, pensam os radicais, acabará por justificar o terrorismo nas capitais ocidentais aos olhos dos muçulmanos.

Recorde-se que uma das vítimas do ataque com um veículo em Nova Orleães, que fez pelo menos 14 mortos na passada quarta-feira, é um luso-descendente de 25 anos, noticiou na quinta-feira o Jornal Luso-Americano.

Este jornal publicou no seu sítio na Internet, citando fontes familiares, que Matthew Tenedório, de 25 anos, era filho do emigrante português Luís Tenedório e neto paterno dos emigrantes João e Dalila Tenedório, naturais de Vila Nova de Cerveira, distrito de Viana do Castelo.

Matthew Tenedório estava no local e foi baleado pelo autor do ataque, que depois de atropelar dezenas de pessoas também efetuou disparos, antes de ser abatido pela polícia.

Ainda de acordo com o Jornal Luso-Americano, Matthew Tenedório, que nasceu em Huntington, Long Island, no Estado de Nova Iorque, esteve num jantar para celebrar o Ano Novo com os pais e decidiu ir com amigos para a Bourbon Street, onde ocorreu o ataque.

Quer Matthew, quer o pai, Lou Tenedório, eram técnicos de audiovisual no Superdome and Smoothie King Center, uma arena no centro da cidade de Nova Orleães, destacou também este jornal.

A equipa de futebol americano de Nova Orleães, New Orleans Saints, transmitiram as condolências à família pela morte de Matthew Tenedório, frisando que era um “membro valioso” da equipa de produção de vídeo”.

“Matthew era jovem, talentoso e tinha um futuro brilhante, ajudando a produzir conteúdos de qualidade quer para os New Orleans Saints e Pellicans [basquetebol]”, pode ler-se.

O ataque ao longo da Bourbon Street matou 14 pessoas, juntamente com o autor do atentado Shamsud-Din Jabbar.

O FBI (polícia federal norte-americana) alterou esta quinta-feira a sua avaliação inicial, referindo agora que este veterano do Exército agiu sozinho, após ter dito que possivelmente tinha coordenado o ataque com outras pessoas.

Esta força policial revelou ainda que Shamsud-Din Jabbar, cidadão norte-americano do Texas, publicou cinco vídeos na sua conta de Facebook nas horas anteriores ao ataque em que proclamava o seu apoio ao Estado Islâmico (EI).

Foi o ataque mais mortífero inspirado pelo EI em solo norte-americano em vários anos, revelando o que as autoridades federais alertaram ser uma ameaça ressurgente do terrorismo internacional.

Ocorreu também numa altura em que o FBI e outras agências de segurança se preparam para uma mudança de liderança – e prováveis mudanças políticas – após a tomada de posse da administração do Presidente eleito Donald Trump.

O FBI continua a procurar pistas sobre Jabbar, de 42 anos, mas disse que, um dia após o início da investigação, estava agora confiante de que não foi ajudado por mais ninguém no ataque.

Os planos de ataque incluíam também a colocação de bombas rudimentares no bairro, numa aparente tentativa de causar mais carnificina, disseram as autoridades.

Jabbar ingressou no Exército em 2007, servindo no ativo nas áreas dos recursos humanos e da tecnologia da informação e foi destacado para o Afeganistão de 2009 a 2010. Foi transferido para a Reserva do Exército em 2015 e saiu em 2020 com o posto de sargento.

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