Novas regras do Facebook já permitem considerar uma mulher “um objeto doméstico”: o que mais muda?
Mark Zuckerberg anunciou, na passada terça-feira, mudanças radicais, a serem lançadas nos próximos meses, na rede social ‘Facebook’, incluindo a eliminação da verificação profissional dos factos. No entanto, a gigante tecnológica, relatou a ‘CNN’, já atualizou discretamente a sua política, adicionando conteúdos agora permitidos aos utilizadores, com efeito imediato.
De acordo com a estação televisiva, é agora permitido referir-se a “mulheres como objetos domésticos ou propriedade” ou “pessoas transgénero ou não binárias como ‘it'”, referem as novas orientações da política da rede social: a Meta vai permitir também “alegações de doença mental ou anormalidade quando baseadas em género ou orientação sexual, dado o discurso político e religioso sobre transgéneros ou homossexualidade”, comentários antes sujeitos à remoção.
Zuckerberg anunciou esta mudança como uma via para a “liberdade de expressão”: a Meta também anunciou que acabaria com a sua rede de verificadores de factos independentes nos Estados Unidos e, em vez disso, dependeria de “notas da comunidade” geradas por utilizadores para adicionar contexto aos posts. Indicou também que pretendia ajustar os seus sistemas automatizados que verificam violações de políticas, o que, apontou, resultou em “muito conteúdo censurado que não deveria ter sido”. Os sistemas agora serão focados apenas em violações extremas, como exploração sexual infantil e terrorismo. Para o dono da Meta, a nova abordagem vai significar “que vamos capturar menos coisas más, mas também reduziremos o número de posts e contas de pessoas inocentes que removemos acidentalmente”.
Segundo a publicação ‘Wired’, as restrições vão deixar de ser aplicadas em temas “como a imigração, a identidade de género e o género”. “Não é certo que as coisas possam ser ditas na televisão ou no plenário do Congresso, mas não nas nossas plataformas”, apontou Joel Kaplan, recém-nomeado diretor de assuntos globais da Meta e destacado republicano dos EUA.
Então, quais são as atualizações nas Diretrizes da Comunidade, um extenso conjunto de regras que descrevem que tipos de conteúdo são proibidos nas plataformas Meta, incluindo ‘Instagram’, ‘Threads’ e ‘Facebook’.
– Remoção da linguagem que proíbe conteúdos dirigidos a pessoas com base nas suas “características protegidas”, que incluem raça, etnia e identidade de género, quando combinadas com “alegações de que têm ou espalham o coronavírus”. Sem esta disposição, pode agora ser legítimo acusar, por exemplo, o povo chinês de ser responsável pela pandemia da Covid-19.
– uma nova adição parece abrir espaço para um utilizador publicar algo como, por exemplo, as mulheres não devem ser autorizadas a servir nas forças armadas ou os homens não devem ser autorizados a ensinar matemática devido ao seu género. A Meta permite agora conteúdos que defendem “limitações baseadas no género nos empregos militares, policiais e docentes. Também permitimos o mesmo conteúdo com base na orientação sexual, quando o conteúdo é baseado em crenças religiosas”.
– conversas sobre exclusão social: a Meta afirmou agora que as “pessoas utilizam por vezes linguagem exclusiva de sexo ou género quando discutem o acesso a espaços muitas vezes limitadas por sexo ou género, como o acesso a casas de banho, escolas específicas, funções militares, policiais ou de ensino específicas, e serviços de saúde ou de grupos de apoio”. Anteriormente, esta exclusão só estava disponível para discussões sobre como manter os grupos de saúde e de apoio limitados a um género.
– a política de Conduto de Ódio da Meta foi aberta: a frase “o discurso de ódio pode promover a violência offline” foiremovida da plataforma esta terça-feira. Na atualização, está preservada a linguagem na parte inferior da política que proíbe conteúdos que possam “incitar violência iminente ou intimidação”.
Houve, no entanto, uma série de restrições que a Meta mantém em vigor há anos que continuam ativas: a versão atual da política mantém proibições de negações do Holocausto, blackface e insinuações sobre o povo judeu controlar os media. Acrescenta ainda uma proibição específica contra a comparação de pessoas negras com “equipamento agrícola”.
A Meta também preservou a sua lista anterior do que chama de características protegidas, que incluem raça, etnia, origem nacional, deficiência, filiação religiosa, casta, orientação sexual, sexo, identidade de género e doenças graves, bem como a sua política sobre “proteger os migrantes, imigrantes e requerentes de asilo” daquilo que caracteriza como ataques de “Nível 1” (“mais graves”), tais como conteúdos direcionados a pessoas ou grupos de pessoas com base nas suas características protegidas ou no seu estatuto de imigração.
De acordo com a versão anterior, a Meta continua a proibir chamar imigrantes, bem como pessoas de grupos de “características protegidas”, insetos, animais, agentes patogénicos ou “outras formas de vida sub-humanas”, bem como alegar que são criminosos ou imorais. O que remete automaticamente para vários comentários de Donald Trump ao longo da campanha eleitoral que o conduziu novamente à Casa Branca.