Nem trabalhar nem levar as crianças à escola: pânico pelas deportações de Trump altera vida nas cidades americanas

As notícias de ataques migratórios oficiais estão a alterar a vida de milhares de habitantes nas grandes cidades dos Estados Unidos desde a tomada de posse de Donald Trump: a lista de ‘raids’ cresce diariamente, sendo que a nova Administração já anunciou mais de 2.300 prisões numa série de operações focadas em encontrar e deportar criminosos – no entanto, têm agitado os espíritos americanos, com muitas famílias a não ousar ir trabalhar ou sequer levar as crianças para a escola.

A desinformação é galopante nos grupos WhatsApp e nas redes sociais, onde são partilhadas informações sobre as deportações maciças ordenadas por Trump e que, segundo o ‘Washington Post’, terá pedido para intensificar.

“As crianças devem ir para a escola. Aqueles que precisam de atenção médica devem ir a hospitais. Aqueles que são vítimas de um crime devem conversar com as autoridades. Repetimos de novo e de novo. Vamos defender todos os nova-iorquinos, documentados e sem documentos”, referiu o controverso mayor de Nova Iorque, Eric Adams. Embora seja dos mais próximos políticos democratas de Donald Trump, Adams e outros autarcas americanos iniciaram uma contra-campanha, de modo a que milhares de migrantes não documentados – mais de 400 mil em Nova Iorque e outros 800 mil em Los Angeles – não paralisem as suas vidas diárias com medo de serem deportado por agentes de segurança depois de serem surpreendidos nos seus locais de trabalho, nas igrejas ou a fazer compras.

Até agora, as grandes metrópoles do país, eminentemente progressivas e com maior diversidade racial, eram conhecidas como “cidades santuário” para migrantes sem documentos: nelas, a polícia local e outras forças de segurnaça têm ordem para não cooperar com agentes do ICE (Serviço de Imigração e Alfândega).

Em Nova Iorque, por exemplo, é fácil encontrar anúncios que oferecem documentos falsos ou trabalhos para não documentados num par de ruas em bairros periféricos. Em Los Angeles, a poucos quilómetros do centro financeiro, é possível conseguir um número de Segurança social e um emprego no mesmo dia. É a ‘vox populi’ entre as comunidades migrantes, mas também para inúmeros habitantes dessas cidades, onde grande parte da economia local depende do trabalho em hospitalidade, limpeza e transporte feita pelos “sem papéis”.

Os media americanos fizeram manchetes, na semana passada, após um ‘ataque a uma marisqueira em Newark, em Nova Jérsia, onde os agentes do ICE apareceram sem um ordem judicial e prenderam três funcionários que não se identiticaram. “O problema é que nenhum deles era violador, assassino ou criminoso”, apontou o autarca da localidade, Ras Baraka.

O Serviço de Imigração e Alfândega insiste que as suas “operação direcionadas” visam exclusivamente imigrantes sem documentos legais, com prisões anteriores, reincidentes ou supostos comportamentos criminais.