Nas zonas com mais Alojamento Local, por cada negócio que fecha abrem outros seis, revela estudo
As zonas com maior densidade de alojamento local (AL) em Lisboa e no Porto estão a transformar-se rapidamente, atraindo novos negócios orientados para turistas, como bares e restaurantes, e acentuando a distinção entre áreas turísticas e residenciais. Este fenómeno foi detalhado num estudo económico conduzido por três investigadores: Francisco Nobre (Universidade de Surrey, Reino Unido), João Pereira dos Santos (ISEG) e Ronize Cruz (Universidade de Coimbra).
Estudo revela impacto económico do AL
O estudo, intitulado The economic footprint of short-term rental on local business: Evidence from Portugal, utilizou dados do Banco de Portugal e registos de AL entre 2016 e 2019 para analisar as mudanças na economia local. Os dados incluem variáveis como número de trabalhadores por estabelecimento, vendas, salários, lucros e liquidez das empresas.
De acordo com Francisco Nobre, em declarações ao Público, “o aumento das rendas de propriedades comerciais, estimulado pela presença de AL, conduziu ao encerramento de empresas pouco produtivas, que foram substituídas por negócios que alcançaram maior volume médio de negócios”.
O investigador explicou que as empresas mais afetadas não conseguiram suportar o aumento das rendas, que subiram cerca de 60% nas freguesias com maior densidade de AL, enquanto em zonas menos turísticas houve até uma redução no valor das rendas.
Transformação do tecido empresarial
Nas cinco freguesias mais afetadas – no Porto, a União das Freguesias de Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, Miragaia, São Nicolau e Vitória; e em Lisboa, Avenidas Novas, Santo António, Santa Maria Maior e Arroios – registou-se um crescimento significativo de novos negócios orientados para o turismo. Entre 2016 e 2019, o número de novas empresas oscilou entre 178 e 456 nessas áreas.
“O sector da restauração, incluindo bares e restaurantes, foi o que mais cresceu entre as empresas turísticas”, afirmou Francisco Nobre. Já nas atividades mais orientadas para residentes, destacaram-se empresas de compra e venda de bens imobiliários, construção e consultoria.
Entre os retalhistas locais da área alimentar, aqueles que conseguiram permanecer em funcionamento registaram, em média, um aumento das vendas. Contudo, o estudo refere que “apenas as empresas orientadas para o turismo registaram um aumento significativo da liquidez”, medido por dinheiro em caixa e depósitos bancários.
Impacto no emprego e novas empresas
A criação de novas empresas superou amplamente os encerramentos: o número de novos negócios foi seis vezes superior ao de empresas encerradas. No entanto, segundo o estudo, estas novas empresas não apresentam, no curto prazo, níveis de produtividade ou lucro superiores, devido aos elevados custos iniciais de instalação.
“O aumento do número de empresas turísticas em áreas com alta densidade de AL pode levar a um cenário em que a percentagem de negócios orientados para turistas supere largamente as atividades direcionadas a residentes”, concluiu Francisco Nobre.
Lisboa e Porto: epicentros do AL
Atualmente, Lisboa conta com cerca de 19.000 registos de AL, enquanto o Porto tem mais de 10.000. Apesar de o estudo ter analisado dados anteriores à pandemia, os autores acreditam que os efeitos na economia local permanecem semelhantes.
Nos últimos anos, a legislação do AL sofreu diversas alterações. Desde novembro de 2024, os municípios podem definir “áreas de contenção” para limitar novas licenças de AL em zonas com alta densidade, e “áreas de crescimento sustentável” para monitorizar locais onde o impacto do AL ainda é limitado.