“Não hesitam em usar a violência”: Grupos de jovens com armas brancas atacam cada vez mais na noite do Porto
O Porto tem visto um aumento da atividade de grupos armados durante a noite, especialmente em zonas movimentadas como a movida portuense. Segundo o superintendente Victor Rodrigues, comandante do Comando Metropolitano da PSP no Porto desde agosto, esses grupos são compostos principalmente por jovens que recorrem a armas brancas e estão dispostos a usar violência para atingir os seus objetivos. “Tem-me preocupado a frequência com que hoje, não apenas no Porto mas a nível nacional, proliferam as armas brancas”, afirmou Victor Rodrigues numa entrevista ao Diário de Notícias. Essa situação é cada vez mais comum em abordagens feitas pelas autoridades.
Victor Rodrigues, que já passou por Faro, Viseu e até Moçambique em missões internacionais, reconhece que a cidade do Porto, tal como outras grandes áreas urbanas, enfrenta desafios específicos relacionados com o aumento da criminalidade. Apesar do aumento residual da criminalidade geral, o comandante sublinha que o sentimento de insegurança entre a população é maior do que o risco real. “O Porto é uma cidade grande, cosmopolita e claro que há criminalidade, mas não é, de todo, uma cidade insegura”, referiu.
Com a crescente afluência de turistas e a presença de grandes concentrações de pessoas na zona da movida, a PSP já tem em marcha um plano de reforço policial, especialmente nos dias de maior movimento, como quintas, sextas e sábados. “A Primeira Divisão é sempre reforçada com elementos das Equipas de Intervenção Rápida, da Unidade Especial de Polícia, do Grupo de Operações Cinotécnicas e até das Equipas de Prevenção e Reação Imediata”, explicou o superintendente. Além disso, a PSP realiza frequentemente operações especiais de combate à criminalidade com o objetivo de apreender armas.
A preocupação com o uso de armas na noite portuense é crescente, com a PSP a observar uma maior presença de indivíduos e grupos que se deslocam à zona da movida com intenção de gerar conflitos e praticar roubos. “O principal objetivo é o roubo, e o que nos preocupa realmente é que não hesitam usar a violência, com recurso a armas brancas, em caso de resistência das vítimas”, afirmou Victor Rodrigues. Os ataques tendem a ocorrer de madrugada, quando as pessoas estão mais vulneráveis, muitas vezes alcoolizadas, tornando-se alvos fáceis.
Narcotráfico e o impacto na segurança da cidade
O narcotráfico continua a ser um dos maiores fatores de insegurança no Porto, principalmente em áreas como a Pasteleira Nova, que têm sido historicamente associadas ao tráfico de drogas. Embora a presença policial tenha sido reduzida após uma fase de maior intervenção, a PSP mantém o patrulhamento de prevenção e continua a monitorizar o bairro. “Foi um esforço enorme mantermos [no bairro], 24 sobre 24 horas, um grande número de polícias, para debelar a situação e incrementar o sentimento de segurança das pessoas, mas não há possibilidade de continuar”, explicou Rodrigues, referindo-se à operação anterior que visava estabilizar a situação no bairro.
Apesar da retirada de parte dos recursos, a investigação criminal continua a trabalhar na zona, e novos processos estão em curso. No entanto, o narcotráfico no Porto não se restringe a um único local. O superintendente reconhece que a pressão policial na Pasteleira provocou a dispersão do tráfico para outras áreas da cidade, como a Sé, uma das principais zonas turísticas. “Toda a zona turística merece uma especial atenção, porque compreendemos que o turismo é importante para a economia nacional e para a imagem do Porto e de Portugal”, afirmou.
Outro fenómeno com que a PSP do Porto tem lidado nos últimos tempos é o aumento do número de imigrantes na cidade. A criação recente do Núcleo de Estrangeiros e Fronteiras tem permitido à polícia identificar situações de alojamento ilegal e a presença de indivíduos em situação irregular. “Isso permitiu-nos identificar cerca de dez alojamentos ilegais e quatro indivíduos que se encontravam ilegalmente no território nacional”, explicou Rodrigues. Muitos destes indivíduos, jovens, estão associados a crimes como furto, roubo na via pública e arrombamento.
Além de fiscalizar o alojamento ilegal, este núcleo tem a tarefa de recolher informações sobre a comunidade migrante e identificar potenciais ameaças. Contudo, o superintendente acredita que, no geral, o país continua a ser bastante tolerante em relação à imigração. “Portugal não é um país xenófobo. Existem situações, como em qualquer parte do mundo, mas acho que o português, por norma, é tolerante”, afirmou Rodrigues, sublinhando que os casos de crimes com motivação racista ou xenófoba são pontuais e não representam a população em geral.
Victor Rodrigues parece determinado a reforçar a segurança no Porto, não apenas através de uma maior presença policial, mas também com ações concretas contra o crime organizado. A PSP já desenvolveu, este ano, cerca de 124 operações de combate ao tráfico de drogas, resultando na detenção de 330 indivíduos. No entanto, o comandante admite que o tráfico de drogas continua a ser uma luta constante, já que por cada grupo eliminado surge outro para ocupar o seu lugar.