“Não há nada para falar”: presidente do Panamá afasta ameaças de Trump sobre o canal

O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, negou qualquer negociação com o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, sobre o controlo do Canal do Panamá, afastando a possibilidade de a China estar a interferir na sua operação. “Não há nada para falar”, garantiu Mulino. “O canal é panamense e pertence ao Panamá. Não há possibilidade de abrir qualquer tipo de conversa em torno dessa realidade, que custou sangue, suor e lágrimas ao país.”

Mulino também rejeitou a possibilidade de reduzir as portagens para embarcações americanas em resposta à ameaça de Trump de exigir que o controlo da importante hidrovia, que liga os oceanos Atlântico e Pacífico, seja devolvido a Washington.

O canal, inaugurado em 1914, foi construído pelos Estados Unidos, mas entregue ao Panamá a 31 de dezembro de 1999, na sequência dos tratados assinados duas décadas antes pelo então presidente americano Jimmy Carter e pelo líder nacionalista do Panamá, Omar Torrijos.

No passado sábado, Trump criticou o que chamou de taxas “ridículas” para navios americanos que passam pelo canal e insinuou a crescente influência da China. “Cabia unicamente ao Panamá administrar, não à China ou a qualquer outro”, indicou Trump, numa publicação na sua plataforma social ‘Truth Social’. “Nós nunca deixaríamos cair em mãos erradas.” Se o Panamá não puder garantir “a operação segura, eficiente e confiável” do canal, “então exigiremos que o Canal do Panamá nos seja devolvido, integralmente e sem questões”.

Estima-se que 5% do tráfego marítimo global passa pelo Canal do Panamá, o que permite que navios que viajam entre a Ásia e a costa leste dos EUA evitem a longa e perigosa rota ao redor do extremo sul da América do Sul. Os EUA são o seu principal utilizador, respondendo por 74% da carga, seguidos pela China, com 21%.

Mulino garantiu que as taxas de uso do canal “não foram definidas por capricho do presidente ou do administrador” da hidrovia interoceânica, mas sim sob um “processo público e aberto” há muito estabelecido. “Não há absolutamente qualquer interferência ou participação chinesa em nada relacionado ao Canal do Panamá”, apontou, sublinhando: “Não há soldados chineses no canal, pelo amor de Deus.”

O Panamá estabeleceu relações diplomáticas com a China em 2017, após romper laços com Taiwan – uma decisão criticada pela primeira administração de Trump. Na passada terça-feira, dezenas de manifestantes reuniram-se do lado de fora da embaixada dos EUA na Cidade do Panamá com gritos como “Trump, animal, deixe o canal em paz” e queimando uma imagem do novo presidente dos EUA.