Na Rússia (e não só) hoje é Dia de Natal. Saiba a que se deve esta ‘mudança’ no calendário (e porque a Ucrânia já celebra a 25 de dezembro)

Enquanto muitas pessoas já avançam nos seus planos para o Ano Novo, milhões de cristãos em várias partes do mundo, incluindo a Rússia, preparam-se para celebrar o Natal a 7 de janeiro. A data marca a celebração do nascimento de Cristo segundo o calendário juliano, seguido pelas igrejas ortodoxas orientais.

Por que é celebrado a 7 de janeiro?
Durante séculos, o mundo cristão utilizou o calendário juliano, instituído pelo imperador romano Júlio César em 46 a.C. Este calendário calculava o ano como o tempo que o Sol levava a completar uma volta à Terra, mas incluía um erro de 11 minutos em relação ao ano solar. Com o passar dos séculos, essa discrepância acumulou-se, desfasando o calendário juliano do ciclo solar.

No século XVI, o Papa Gregório XIII introduziu o calendário gregoriano para corrigir o problema, e a maioria do mundo cristão adotou-o progressivamente. No entanto, algumas igrejas ortodoxas, incluindo a Igreja Ortodoxa Russa, recusaram a mudança, permanecendo fiéis ao calendário juliano. Esta diferença de 13 dias entre os calendários coloca o Natal ortodoxo em 7 de janeiro.

Tradições do natal ortodoxo
Os cristãos ortodoxos observam um jejum rigoroso de 40 dias antes do Natal, durante o qual evitam o consumo de carne e outros produtos de origem animal. A celebração culmina na véspera de Natal, a 6 de janeiro, com uma missa e um banquete festivo que marca o fim do jejum.

O banquete inclui 12 pratos tradicionais, simbolizando os apóstolos de Cristo. Entre os pratos típicos estão sopa de repolho, maçãs assadas, estufado de vegetais e pão. Outras tradições incluem cânticos natalícios, decoração de casas com ramos de trigo e, em algumas igrejas sérvias, a queima de um ramo de carvalho como parte da proclamação do nascimento de Cristo.

Mudanças na Ucrânia
Historicamente, a Igreja Ortodoxa Russa exerceu uma forte influência religiosa na Ucrânia. No entanto, em 2023, a Ucrânia marcou uma ruptura significativa ao deixar de celebrar o Natal a 7 de janeiro. Em julho do mesmo ano, o governo ucraniano aprovou uma lei que alterou a celebração oficial para 25 de dezembro. Segundo a legislação, assinada pelo presidente Volodymyr Zelenskyy, a mudança reflete o desejo dos ucranianos de “viver com as suas próprias tradições e feriados”.

A recém-criada Igreja Ortodoxa da Ucrânia também adotou a nova data, enquanto a Igreja Ortodoxa Ucraniana, historicamente alinhada com Moscovo, enfrentou restrições e acusações de cumplicidade com a invasão russa.

Em agosto de 2024, a Ucrânia aprovou uma lei que proíbe grupos religiosos ligados a Moscovo, afetando diretamente a Igreja Ortodoxa Ucraniana. Embora esta tenha declarado cortar laços com a Rússia após a invasão, o governo ucraniano expressou desconfiança, iniciando processos criminais contra clérigos da igreja, incluindo acusações de traição.

Enquanto a Ucrânia já realizou a mudança para 25 de dezembro, a Rússia, que segue o calendário juliano, poderá enfrentar alterações no futuro. Devido ao crescente desfasamento entre os calendários gregoriano e juliano, prevê-se que o Natal ortodoxo russo seja celebrado a 8 de janeiro a partir do ano 2100.

A celebração do Natal em 7 de janeiro continua a ser um pilar cultural e religioso na Rússia, refletindo tanto a resistência a mudanças históricas quanto a preservação de tradições que distinguem as igrejas ortodoxas do cristianismo ocidental.