Na Educação «devíamos falar mais de deveres e menos de direitos»
Já são conhecidas as 10 melhores ideias para promover o desenvolvimento e crescimento de Portugal. Durante a manhã de hoje foram apresentadas 27 propostas na XVII Conferência Executive Digest que foram, num segundo momento, votadas pela audiência e por aqueles que seguiam o evento via streaming do Sapo.
Desta votação resultou a lista de 10 ideias para melhorar o País. Jorge Rebelo de Almeida (Hotéis Vila Galé), Nuno Ferreira Pires (Sport TV), José Galamba de Oliveira (APS), Clara Raposo (ISEG), José Miguel Leonardo (Randstad), Pedro Ferreira (Farmácias Portuguesas), Francisco Matos Chaves (Altice), Pedro Costa Ferreira (APAVT) e Paula Panarra (Microsoft) são os autores das ideias levadas ao evento.
Num terceiro momento da conferência procedeu-se à análise dos resultados numa mesa redonda com a participação de João Lopes, CEO da Medinfar, Pedro Galhardas, managing director da Accenture Strategy, e Pedro Neves Ferreira, administrador da EDP, com moderação de João Duque, professor catedrático do ISEG.
Pedro Galhardas salientou que se se quiser pensar num país para a próxima década há que pensar num país mais moderno. Se é verdade que houve muitos avanços no digital, também o é que «em muitos indicadores estamos atrás e precisamos de continuar a investir», sublinhou o responsável da Accenture.
No caso de Pedro Neves Ferreira foram essencialmente duas as ideias que mais o marcaram das 27 propostas. Uma diz respeito às PME e outra ao investimento na própria pessoa. A primeira – que pode ter implementação e resultados imediatos – concerne o endeusamento das PME que, na opinião deste profissional, leva a cavalgar o elogio da pequenez. «Sou apologista de medidas que ajudem a ganhar escala e cooperação», explicou e citando um artigo do Economist acrescentou: «Quanto maior for o tecido empresarial do país, maior a produtividade.» Mas lembrou que a partir de uma determinada dimensão das empresas, estas têm uma série de exigências legais. Ou seja, explica, «coloca-se barreiras à escala».
A segunda ideia que o administrador da EDP salientou diz respeito ao investimento no eu. Trata-se, referiu, «de não nos demitirmos de nós próprios. Não compactuar com a mediocridade». E não se trata de egoísmo. «Começando por sermos exigentes connosco, consegue-se construir um país mais exigente.»
Uma exigência, de resto, que começa precisamente pela educação e formação e que leva a que nas empresas a separação clássica das pessoas em função das suas áreas de formação inicial tenha vindo a desaparecer. «Na minha equipa tenho pessoas que estão a trabalhar em conjunto, sendo umas licenciadas em arquitectura e outras em filosofia», conta Pedro Galhardas. E dá o exemplo de uma escola de programação que está a competir com universidades centenárias. As pessoas que saem desse curso têm melhores empregos do que as que saem do MIT. «Essa escola tem o seu método de admissão sendo que o único requisito fixo é que as pessoas têm de ter mais de 18 anos. Não tem professores, mas coaches. Ao fim de três anos, o estudante tem o curso, mas até lá escolhe o seu percurso e as áreas que quer estudar.»
Pedro Neves Ferreira defende que, no que à educação diz respeito, devíamos todos falar mais de deveres e menos de direitos. «A tónica devia estar no dever do País e dos professores em formar estudantes», salienta. E vai mais longe, opinando que Portugal devia entrar num Liga de Ensino. E, acrescenta, com a educação podemos oferecer todo o estilo de vida que agrada aos estrangeiros em Portugal.
E se é verdade que nem todos os profissionais que “andam com a cabeça na lua” têm o potencial de ser Bill Gates, não o é menos verdade que a diversidade é essencial e que devemos aprender a trabalhar com quem pensa diferente. «Isso cria valor nas empresas e no resultado do que produz», assegura.
Apesar de acreditar que fazer evoluir todo o sistema educativo é complicado porque a tecnologia anda muito rápido, João Lopes defende que as empresas têm um papel muito importante para desenvolver programas formativos nas suas áreas. E com isso conseguem alcançar dois objectivos. Por um lado, conseguem fixar pessoas nessas áreas e, por outro, garantem emprego a esses profissionais. «As pessoas fazem a diferença nas empresas e as que são capazes de desafiar, que têm outro tipo de interesses podem de facto fazer a diferença», assume o responsável da Medinfar.
Ainda que a redução da fiscalidade tenha sido um dos caminhos apresentados no momento anterior da conferência e tenha chegado à lista das 10 melhores ideias para promover o desenvolvimento e crescimento de Portugal, os participantes na mesa redonda não parecem estar convencidos do mesmo. O responsável da EDP assegura que a estabilidade e a previsibilidade são tão ou mais importantes do que a redução da fiscalidade. «A dificuldade é quando a estabilidade não existe. A ideia de que o passado é incerto acontece quando nos vemos confrontados a ter de pagar retroactivos. Isso dificulta a gestão das empresas», assegura. E vai mais longe: «Está-se constantemente a revisitar o passado quando é fundamental olharmos para o futuro num momento em que a revolução na electricidade está em curso.» Díficil para as empresas, sublinha, é quando se mudam as regras a meio do jogo. Ou seja, quando uma empresa toma uma decisão de investimento tem de ter garantias de que daí a dois anos a fiscalidade não será alterada.
Texto de Maria João Lima