Musk entrevista hoje líder da extrema-direita alemã em direto no X. Comissão Europeia está atenta e promete ser implacável
Elon Musk, proprietário da plataforma X, terá hoje uma conversa em direto com Alice Weidel, líder do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), numa altura crítica em que a Alemanha se aproxima das eleições federais, marcadas para 23 de fevereiro. O anúncio desta iniciativa gerou uma forte reação política e mediática, tanto na Alemanha como na União Europeia.
O formato escolhido, um áudio ao vivo, insere-se no conjunto de estratégias digitais que Musk tem utilizado para amplificar discussões políticas na sua plataforma. Esta entrevista surge na sequência de declarações de Musk em apoio ao AfD, que incluíram um artigo de opinião no jornal alemão Welt am Sonntag, onde Musk descreveu o partido como “a última faísca de esperança” para a Alemanha. Estas declarações foram vistas como um endosso direto ao AfD e suscitaram críticas de vários quadrantes políticos na Alemanha.
As reações ao anúncio da entrevista têm sido intensas. Líderes políticos alemães acusaram Musk de interferir nas eleições ao utilizar a sua plataforma e influência global para beneficiar o AfD. Rolf Mützenich, figura de destaque do Partido Social-Democrata (SPD), apelou ao governo alemão para clarificar se esta intervenção reflete também posições da administração norte-americana liderada por Donald Trump, com quem Musk mantém laços próximos.
“Devemos questionar se esta repetida interferência no processo eleitoral está, de alguma forma, relacionada com a nova administração dos Estados Unidos”, afirmou Mützenich à revista Der Spiegel.
Um porta-voz do governo alemão também reagiu, sublinhando que, apesar da liberdade de expressão, há limites éticos a considerar. “A liberdade de opinião também cobre os maiores disparates, mas há um risco evidente de influência externa no processo democrático”, alertou.
A Comissão Europeia, que já abriu uma investigação ao X por possíveis violações da Lei dos Serviços Digitais (DSA), confirmou que irá incluir esta transmissão na análise em curso. A lei, que entrou em vigor em agosto de 2023, exige que grandes plataformas mitiguem riscos como desinformação e discurso de ódio, especialmente em períodos eleitorais.
Um porta-voz da Comissão afirmou: “Nada no DSA proíbe uma plataforma de organizar transmissões em direto. Contudo, iremos avaliar se esta transmissão foi precedida de uma análise adequada dos riscos, como exige a legislação.”
Em resposta ao caso, uma mesa-redonda envolvendo a Comissão, as autoridades alemãs e as principais plataformas online foi agendada para 24 de janeiro, para discutir os desafios digitais antes das eleições.
A entrada de Musk no debate político alemão tem levantado questões sobre o impacto do seu apoio ao AfD, que atualmente ocupa o segundo lugar nas sondagens, com 19% das intenções de voto. A aliança conservadora, liderada por Friedrich Merz (CDU), lidera com 30%, enquanto o SPD e os Verdes enfrentam maiores dificuldades para mobilizar o eleitorado.
Apesar do apoio de Musk, especialistas estão divididos sobre o impacto deste no desempenho do AfD. Enquanto alguns acreditam que a visibilidade gerada pela entrevista poderá beneficiar o partido, outros argumentam que a associação com Musk, que mantém relações estreitas com Donald Trump, pode alienar parte do eleitorado alemão.
Esta não é a primeira vez que Elon Musk utiliza o X para discussões políticas. Em agosto de 2023, Musk entrevistou Donald Trump através da funcionalidade Spaces, mas o evento foi amplamente criticado devido a problemas técnicos que prejudicaram a transmissão.
A expectativa em torno da conversa com Alice Weidel é elevada, tanto pelo conteúdo político quanto pelo potencial impacto nas eleições alemãs. Analistas destacam que, num cenário polarizado, a utilização de plataformas digitais como o X pode desempenhar um papel crucial na formação da opinião pública.
Agora, todas as atenções estão voltadas para o formato e os temas que serão abordados na conversa, bem como para as reações que esta provocará nas semanas que antecedem as eleições federais na Alemanha.