Museu do Louvre está em “condições muito precárias”, denuncia nota secreta da direção

Um memorando confidencial assinado pela diretora do Museu do Louvre, Laurence des Cars, trouxe à tona o estado preocupante do museu mais visitado do mundo. O documento, dirigido à ministra da Cultura, Rachida Dati, e divulgado pelo jornal Le Parisien, descreve um cenário de superlotação, infraestruturas inadequadas e riscos à preservação das obras de arte.

No memorando, datado de 13 de janeiro, des Cars aponta que visitar o Louvre é atualmente uma “prova física”. “O acesso às obras exige tempo e nem sempre é fácil. Os visitantes não têm espaço para descansar, as opções de alimentação são limitadas, e as instalações sanitárias são insuficientes, ficando abaixo dos padrões internacionais”, escreveu. A diretora sublinhou ainda que a sinalização do museu precisa de uma reformulação completa.

Em 2024, o Louvre recebeu 8,7 milhões de visitantes, mais do dobro da capacidade para a qual foi projetado. Embora o número tenha ficado abaixo do recorde de 10 milhões em 2019, a pressão sobre as instalações continua a ser significativa. Desde 2022, o limite diário de visitantes foi reduzido para 30 mil, face aos 45 mil registados antes da pandemia.

Infraestruturas em risco e impacto nas obras de arte
A superlotação não afeta apenas a experiência dos visitantes, mas também a preservação do acervo. De acordo com o memorando, várias áreas do museu apresentam “condições muito precárias”. Algumas já não são impermeáveis, enquanto outras sofrem com variações extremas de temperatura, colocando em risco a integridade das obras.

O Louvre, fundado em 1793, ocupa o histórico Palácio do Louvre, originalmente uma fortaleza medieval do século XII. Apesar das renovações significativas ao longo dos séculos, incluindo a icónica pirâmide de vidro projetada por I.M. Pei em 1989, o envelhecimento das estruturas e o aumento do fluxo de visitantes têm cobrado um preço elevado.

Des Cars destacou problemas específicos relacionados à pirâmide. “Em dias muito quentes, a cobertura de vidro cria um efeito de estufa, tornando o espaço inóspito tanto para o público como para os funcionários que ali trabalham”, afirmou.

Soluções e pedidos de financiamento
Reconhecendo as limitações orçamentais atuais do setor cultural em França, a diretora apelou à ministra para a alocação de fundos destinados à renovação do museu. Entre as medidas sugeridas estão a criação de uma segunda entrada para aliviar a sobrecarga na entrada principal e a transferência da icónica Mona Lisa para uma sala dedicada, a fim de dispersar as multidões que se concentram em torno da pintura. “Não podemos aceitar o status quo”, reforçou des Cars.

A decisão de aumentar os preços dos bilhetes em 29% no ano passado foi um esforço para mitigar o impacto dos custos energéticos elevados e para continuar a oferecer entrada gratuita a residentes do Espaço Económico Europeu com menos de 25 anos. Ainda assim, des Cars considera estas medidas insuficientes para enfrentar os desafios estruturais e operacionais.

A revelação sobre o Louvre surge num momento em que a França investe significativamente na renovação de outros marcos culturais. O Centro Pompidou, por exemplo, será fechado por cinco anos para obras, enquanto a Catedral de Notre-Dame reabriu recentemente após uma reconstrução de quase 700 milhões de euros, na sequência do incêndio de 2019.

Laurence des Cars, que assumiu a direção do museu em 2021, após liderar o Musée d’Orsay e o Musée de l’Orangerie, tem agora pela frente o desafio de modernizar a infraestrutura do Louvre e garantir que o museu continue a ser um ícone cultural mundial. Contudo, as soluções propostas dependerão da alocação de fundos significativos e de uma vontade política que equilibre a conservação do património histórico com a experiência dos visitantes.