Mulher morre após INEM não atender chamada de emergência durante hora e meia. Acabou levada ao hospital pela PSP
Uma mulher na casa dos 70 anos faleceu no Hospital Garcia da Orta, em Almada, após uma situação de falha no atendimento de emergência por parte do INEM. O incidente ocorreu na segunda-feira, quando a idosa se encontrava no Tribunal de Almada para prestar declarações num processo de violência doméstica em que era queixosa. Durante a audiência, a mulher começou a sentir-se mal, e foi solicitado auxílio ao 112, mas, após uma espera de uma hora e meia sem resposta, e sem atendimento da chamada durante cerca de uma hora e meia, a Polícia de Segurança Pública (PSP) acabou por transportá-la ao hospital, onde viria a falecer no dia seguinte.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou ao jornal Público que foi ordenada a realização de uma autópsia médico-legal, depois de o corpo já ter sido entregue à família, com o objetivo de apurar a causa e as circunstâncias da morte. Em comunicado inicial, a PGR explicou que “após terem sido tentados os habituais contactos de emergência, sem resultado positivo, a referida senhora foi transportada pela PSP para o Hospital Garcia da Orta”. Segundo a PGR, foi então aberto um inquérito para esclarecer os factos.
Sérgio Soares, porta-voz da PSP, explicou que a mulher mostrava indícios de Acidente Vascular Cerebral (AVC) enquanto se encontrava no tribunal. Segundo Soares, “no tribunal, acionaram os meios de socorro, mas devido à demora, a procuradora entrou em contacto com o Comandante da Esquadra de Almada da PSP, que determinou a ida de um carro patrulha para transportar a idosa”. O transporte foi realizado em marcha de urgência, mas, ao chegar ao hospital, a doente já se encontrava em estado grave e viria a falecer na terça-feira.
Uma fonte do Hospital Garcia da Orta confirmou ao mesmo jornal que a idosa foi admitida no hospital na tarde de segunda-feira, sendo transportada pela PSP.
O incidente trouxe à tona a carência de meios de socorro, agravada por uma série de paralisações no setor, nos últimos dias. O comandante dos Bombeiros Voluntários de Almada, Ricardo Silva, confirma que, apesar de ter sido contactada a sua corporação, não havia disponibilidade de ambulâncias. “As três que tínhamos ao serviço estavam empenhadas”, afirmou Silva, sublinhando a dependência das chamadas ao 112 para orientação do INEM.
Questionado pelo Público sobre o caso, o INEM não comentou especificamente, mas admitiu que a atividade dos Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) foi afetada pela greve da função pública e dos técnicos de emergência pré-hospitalar às horas extraordinárias, reconhecendo que “estas circunstâncias tiveram impacto na prestação de cuidados de emergência”.
O presidente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH), Rui Lázaro, destacou que a greve, iniciada na quarta-feira anterior e sem data prevista para terminar, já levou à redução de profissionais a atender chamadas de emergência. Lázaro explicou que “o pessoal está a exigir aumentos salariais e uma revisão de carreira”, acrescentando que atualmente, estes técnicos ganham um salário bruto de 922 euros, com uma progressão mínima para mais 50 euros após 10 a 13 anos de serviço. Este protesto ocorreu em paralelo com a greve na administração pública, agravando a carência de recursos no INEM.
Segundo Rui Cruz, vice-presidente do STEPH, na segunda-feira o número de chamadas em espera ultrapassou as 100 e “não diminuiu até à hora de almoço”. Em Lisboa, o maior centro do país, havia apenas quatro profissionais a atender, quando seriam necessários 18.
Face à crise no atendimento de emergência, a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, referiu que o governo está a implementar medidas para otimizar o funcionamento do CODU, como “linhas alternativas de apoio”, sem detalhar como esta resposta será implementada. Na terça-feira, o INEM anunciou o reforço com 10 ambulâncias de socorro, integradas nos postos de emergência médica (PEM) em várias corporações de bombeiros e delegações da Cruz Vermelha Portuguesa. Esta medida, indicou o INEM, pretende responder às limitações causadas pela greve e ao aumento de ocorrências previsto para o Outono e Inverno.
O STEPH critica, no entanto, que estas medidas não representam um verdadeiro reforço. Rui Lázaro argumenta que “estas ambulâncias apenas mudam de nome, sendo pagas por um pacote diferente”, e aponta a falta de diálogo entre o sindicato e o governo.