Mercados: Vem aí “o marasmo de agosto”? “Não devemos excluir a hipótese de uma tempestade de verão purificadora”, alerta especialista

Embora alguns indicadores económicos tenham perdido recentemente o seu ímpeto, tal não precisa de conduzir necessariamente a um
abrandamento significativo.

A atividade económica deve manter-se robusta no segundo semestre do ano, com um constante impulso positivo para os resultados das empresas, como aponta o Relatório Mensal sobre Mercado de Capitais, referente ao mês de agosto, elaborado por Stefan Scheurer, Director, Global Capital Markets & Thematic Research da Allianz Global Investors (AllianzGI).

Para Scheurer, “o desempenho e a valorização dos ativos de risco já anteciparam em grande medida a evolução económica, pelo que não se deve excluir a hipótese de uma tempestade de verão purificadora.”

Mesmo com uma dinâmica de crescimento mais lenta, é provável que o crescimento global se mantenha acima da tendência no segundo semestre
do ano. É provável que os bancos centrais se mantenham cautelosos quanto ao facto de terem de ajudar a manter as ações bem apoiadas até ao final do ano, como refere o executivo.

Para a AllianzGI, a nível regional, os mercados de ações europeus poderão destacar-se nas próximas semanas: a dinâmica de crescimento deverá atingir o seu pico mais tarde do que nos EUA. E as estatísticas de vacinação poderão ganhar terreno em comparação com os EUA. Por enquanto, o Banco Central Europeu (BCE) não está a reduzir os incentivos. As primeiras tranches do Fundo de Recuperação poderão ser investidas no segundo semestre do ano.

 

 Mercado de Obrigações 

a AllianzGI reconhece que “os mercados de obrigações, em particular dos EUA, têm estado agitados: os rendimentos reais das obrigações do Tesouro a 10 anos dos EUA atingiram mínimos históricos. Para além da questão relativa ao momento em que o banco central deveria começar a reduzir as suas generosas carteiras de obrigações (“tapering“), está também em discussão a forma da trajetória de crescimento dos EUA e as perspetivas de inflação a médio prazo”.

“A revisão da abordagem da política monetária do Banco Central Europeu (BCE) abriu portas para a continuação de uma política monetária expansionista, pelo que é pouco provável que se verifique uma reviravolta na provisão de liquidez em breve”, acrescenta o documento.

“Embora a inflação dos preços no consumidor deva exceder a meta de inflação do BCE nestes meses, a economia da Zona Euro ainda está longe
de sobreaquecer. E provavelmente irá demorar alguns trimestres a eliminar o diferencial do produto. Contudo, os rendimentos das obrigações da Zona Euro dificilmente serão capazes de se afastar completamente de uma tendência para rendimentos mais elevados, caso estes últimos voltem a
ganhar um novo impulso”, sublinha o relatório.

 

Moedas

Para   Stefan Scheurer, “num ambiente de gosto contínuo pelo risco e de uma recuperação económica contínua, mesmo que o ímpeto económico tenha atingido o seu pico, continua a haver margem para uma ligeira desvalorização do dólar americano. Também é provável que estímulos fiscais adicionais coloquem uma maior pressão sobre o défice orçamental dos EUA e possam estimular a inflação interna, que historicamente tendem a ser
fatores de stress para uma moeda”

“Neste ambiente, é aconselhável um posicionamento mais seletivo para um dólar americano mais fraco, por exemplo, em relação ao dólar
australiano ou canadiano (entre outros, efeitos do impulso de crescimento dos EUA) e à coroa norueguesa (entre outros, parâmetros fundamentais
sólidos, exposição ao petróleo)”, conclui o excutivo.

 

Matérias-primas
No meio da crescente normalização das atividades económicas subjacentes, a procura de petróleo aumentou recentemente de forma
acentuada nos EUA, mas também na Europa. A OPEP e os seus países produtores aliados (OPEP+) também desempenharam um papel crucial
nesta matéria, concordando aumentar os seus volumes de produção para 400 000 barris (159 litros cada) por dia a partir de agosto de 2021 até
novo aviso.

Como lembra a consultora, “após um acentuado aumento dos preços ao longo do ano, muitas matérias-primas respiraram de alívio recentemente devido à tendência dereflação. Este movimento deve antes de mais ser entendido como garantia de lucros (“take profit”), uma vez que se espera que o crescimento global permaneça elevado e as limitações ao nível da oferta devam manter-se sobre muitas matérias-primas, especialmente metais”.

Num contexto de inflação crescente ou de queda dos rendimentos reais, bem como de um dólar americano estruturalmente mais fraco, o ouro,
conhecido como sendo um “porto seguro“, deve sentir um forte apoio com o decorrer do ano. Porém, a elevada valorização poderá, a curto prazo,
tornar o ouro suscetível a um retrocesso.