Médicos e enfermeiros voltam hoje à rua em protesto: adesão às greves deve ser maior esta quarta-feira, indicam sindicatos
Cumpre-se esta quarta-feira o segundo dia de greve de médicos e enfermeiros: esta foi a primeira vez que as duas classes profissionais coincidiram com o protesto por melhoria das condições laborais.
Dois terços dos médicos estiveram esta terça-feira em greve, observou a presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam), adiantando que os “constrangimentos maiores” da paralisação se observam nos blocos operatórios dos hospitais, com muitos encerrados. “Estamos a assumir, por agora, e são dados preliminares que dois terços dos médicos estarão em greve”, referiu Joana Bordalo e Sá, salientando que “os constrangimentos maiores, como é expectável, são a nível dos blocos operatórios” – houve blocos cirúrgicos encerrados a 100%, funcionando apenas para as urgências.
Nesta situação estiveram os blocos operatórios dos hospitais de Guimarães, Gaia, Santo António, Penafiel, Amarante, no distrito do Porto, no hospital de Leiria e no IPO do Porto, enquanto em Coimbra, no hospital universitário, a paralisação do bloco central é de 80%.
A presidente da FNAM disse ainda que é preciso “uma negociação séria e não de fachada” e acusa o Governo de agravar ainda mais as condições de trabalho dos profissionais do SNS. “Exigimos uma ministra da Saúde que perceba de saúde e que consiga servir o SNS”, afirmou.
Esta terça-feira, médicos de todo o país estiveram concentrados em frente ao Ministério da Saúde, em Lisboa, numa manifestação para exigir melhores condições de trabalho e salariais e um Serviço Nacional de Saúde mais forte para responder à população. “O povo merece o SNS” e “Não calamos, não calamos a saúde é de todos” e “Ana chegou e a saúde já piorou” foram algumas palavras de ordem cantadas em uníssono pelos médicos presentes no protesto que assinala a greve de dois dias convocada pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM).
Cerca de uma centena e meio de médicos, segundo números da FNAM, estiveram concentrados na Avenida João Crisóstomo, onde sobressaíram balões dourados que assinalam os 45 anos do SNS e vários cartazes empunhados pelo clínicos com mensagens como “Os médicos exigem ser tratados com respeito”, “É greve porque é grave. Todos pelo SNS”. À frente da manifestação, presenciada por alguns agentes da PSP, destacam-se duas faixas com os apelos dos médicos: “É preciso salvar o SNS” e “É preciso cuidar de quem cuida”.
Enfermeiros com até 70% de adesão no primeiro dia
O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) estimou que a adesão à greve nacional no primeiro dia tenha estado entre os 60 e 70%, admitindo no entanto que o acordo entre o Ministério da Saúde e alguns sindicatos tenha prejudicado hoje a iniciativa.
De acordo com o presidente do SEP, na manhã desta terça-feira, “na área hospitalar a adesão cifrou-se entre os 60% e os 70%, sendo certo que há muitas instituições acima desses valores”, afirmou: segundo José Carlos Martins, há hospitais com níveis de adesão mais elevados, como em Abrantes (91%), Hospital Egas Moniz, em Lisboa (73%) ou Hospital da Póvoa do Varzim (79%) que, a par de outros com níveis mais baixos, como o Hospital de São João, no Porto (56%), faz com que a estimativa aponte para níveis de adesão entre os 60% e os 70%.
Na opinião do sindicalista, isso “traduz a manutenção da insatisfação porque o SEP não fez acordo e mantém a greve que está em curso”. “Apesar de haver alguns enfermeiros com algumas dúvidas decorrentes daquilo que foi a manobra de diversão montada na segunda-feira à noite pelo Ministério da Saúde e alguns sindicatos de enfermagem”, criticou.
Admitiu, por isso, que hoje tenha havido alguns enfermeiros que não tenham aderido à greve por “estarem baralhados”, na sequência “dessa confusão”. “É expectável que amanhã [quarta-feira] até haja mais colegas a fazer greve”, apontou.
Relativamente ao acordo alcançado entre a tutela e alguns sindicatos de enfermeiros, José Carlos Martins acusou o Ministério da Saúde de fazer uma coisa “vergonhosa”. “O Ministério da Saúde deve um monte de dinheiro aos enfermeiros, relativamente aos retroativos entre 2018 e 2022 e com esse dinheiro não pago, está agora a fazer uma pseudovalorização da grelha salarial”, criticou.