Marquises arrendadas como quartos. Conferências Vicentinas denunciam “atentado à dignidade”
A Sociedade de São Vicente de Paulo, através da sua presidente, Fernanda Capitão, alerta para a crescente precariedade habitacional em Portugal, considerando o arrendamento de marquises como um exemplo flagrante de violação da dignidade humana. Em declarações à Renascença, Fernanda Capitão descreveu um cenário de “pobreza envergonhada”, onde famílias que trabalham não conseguem garantir o seu sustento devido aos baixos salários e ao elevado custo de vida.
Segundo Fernanda Capitão, há uma realidade de pobreza oculta, onde mesmo com ambos os elementos do agregado familiar empregados, o rendimento não é suficiente. “Com um filho é difícil, com dois é muito mais complicado, e isso desmotiva as famílias a terem mais filhos”, salientou. Esta situação afeta transversalmente várias dioceses, com particular impacto em famílias que enfrentam dificuldades económicas significativas.
A dificuldade de acesso à habitação é um dos problemas mais graves identificados pelas Conferências Vicentinas. Fernanda Capitão denuncia casos de sobrelotação e promiscuidade nas habitações, com famílias a viverem em condições indignas, incluindo o arrendamento de marquises. “Isto é um atentado à dignidade das pessoas”, declarou, sublinhando a gravidade da situação habitacional no país.
Outro desafio crescente é o apoio a migrantes, que enfrentam barreiras linguísticas e culturais. A rotatividade habitacional e a dificuldade de comunicação complicam a integração e o apoio eficaz. “Temos migrantes de diversas partes do mundo, e adaptar a ajuda às suas necessidades específicas é essencial”, explicou.
A distribuição de cabazes alimentares continua a ser uma das principais atividades das Conferências Vicentinas, mas a assistência vai além disso. “Dar de comer continua a ser fundamental”, afirmou Fernanda Capitão, destacando também o apoio em medicação, consultas médicas e fornecimento de material geriátrico.
Com 166 anos de presença em Portugal, as Conferências Vicentinas mantêm o foco na visita domiciliária, criando relações de proximidade e confiança com as famílias necessitadas. “Ver Cristo no rosto dos irmãos faz parte da nossa essência”, destacou Fernanda Capitão, reforçando a importância do carisma vicentino em responder às necessidades concretas das comunidades.
As ações das Conferências Vicentinas adaptam-se às necessidades específicas de cada local. Em Sintra, por exemplo, o foco está nas famílias de pessoas presas, enquanto em zonas rurais de Coimbra, as atividades são direcionadas para a população idosa. Esta flexibilidade permite uma resposta mais eficaz e personalizada.
Com mais de 6.000 vicentinos ativos, a organização enfrenta o desafio de atrair os jovens para a sua missão. Fernanda Capitão reconhece a necessidade de cativar os jovens através de iniciativas que vão ao encontro dos seus interesses, como o ambiente e a sustentabilidade. “Ouvir e escutar os jovens será uma prioridade”, garantiu, apontando para inovações e encontros nacionais que visam envolver esta nova geração no trabalho vicentino.