“Mais de um milhão de pessoas estão sem comida”: ajuda não está a chegar a Gaza, denunciam grupos de ajuda humanitária

A ajuda não chega da Gaza, denunciaram esta quinta-feira diversos grupos de ajuda humanitária, que indicaram que “mais de um milhão de pessoas ficam sem comida”: abastecimentos médicos, até escovas de dentes e shampoo também permanecem retidos nos muitos camiões que não conseguem entrar do Egito.

De acordo com os grupos de ajuda humanitária, mais de um milhão de pessoas em Gaza não terão comida suficiente neste mês, enquanto camiões carregados com vegetais frescos e carne – que se estragam – esperam para cruzar os postos de controlo israelitas, ao passo que milhares de pacotes com alimentos, medicamentos, entre outros, continuam presos nos camiões retidos no Egito.

“Estimamos que mais de um milhão de habitantes de Gaza ficarão sem comida em setembro”, denunciou Sam Rose, vice-diretor sénior da agência de ajuda humanitária da ONU para os palestinianos (UNRWA), em Gaza. “Mais da metade dos medicamentos dos nossos centros de saúde estão a acabar, assim como o cloro para a purificação de água e outros abastecimentos básicos.” A UNRWA, indicou, tentou importar itens individuais, como sabão, porque os kits com vários itens, como sabão em pó, foram impedidos de entrar.

“Acreditamos que seremos mais bem servidos trazendo barras de sabão do que tentando algo mais complicado”, explicou. “Isso mostra o quão desesperante a situação se tornou – estamos reduzidos ao mínimo absoluto para melhorar as condições de higiene, o que é um estado de coisas atroz numa situação em que há um risco crescente de doenças infecciosas”, reforçou. “Tão pouco ajuda está a chegar que não estamos a conseguir atender à necessidades básicas.”

Amed Khan, fundador da organização de ajuda humanitária Elpida, disse que o seu grupo tentou, sem sucesso, levar abastecimentos médicos para o território por vários meses, revelou a publicação ‘The Guardian’.

A quantidade de ajuda que entra, disse, “é o mínimo absoluto necessário para garantir que as pessoas não morram imediatamente de fome. Podem morrer daqui a três anos de desnutrição prolongada, mas essa é a quantidade mínima de camiões necessária para garantir que as pessoas não morram imediatamente e evitar indignação internacional”.

Khan utilizou dados das Nações Unidas para ilustrar a situação: desde que as forças israelitas assumiram o controlo do ponto de travessia de Rafah, em julho, entravam por dia uma média de 100 camiões, a grande parte pela travessia sul de Kerem Shalom. Esse número caiu pela metade em agosto, enquanto apenas 147 camiões entraram em setembro.

Dentro de Gaza, a distribuição de ajuda é complicada pela falta de combustível, estradas militares israelitas e postos de controlo. Também é extremamente perigosa: 280 trabalhadores humanitários, a maioria empregados pela UNRWA, foram mortos em Gaza em 11 meses de combate, de acordo com o escritório de assuntos humanitários da ONU.

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