Mais de 450 peões são vítimas de atropelamento com fuga todos os anos: especialistas pedem “mão mais pesada” à Justiça
Nos últimos seis anos, houve mais de 450 pessoas vítimas de atropelamentos com fuga, avançou esta segunda-feira o ‘Jornal de Notícias’: de acordo com dados da PSP e GNR, desde 2019 houve 40 mortes, números que levaram os especialistas em segurança rodoviária a lamentar que a Justiça “não tenha mão mais pesada” para os infratores.
Os números sinistros baixaram em 2020 e 2021, devido à menor circulação rodoviária devido à pandemia da Covid-19, mas voltaram a ‘recuperar’ em 2022 e 2023, sendo agora superiores ao período pré-pandemia. Segundo Mário Alves, presidente da Estrada Viva, rede de associações pela cidadania rodoviária, os números deste ano devem mesmo ultrapassar os de 2019. “Há mais carros nas ruas, principalmente nas zonas urbanas. De acordo com as contagens do IMT [Instituto da Mobilidade e dos Transportes], há mais 10% de tráfego do que havia em 2019”, explicou.
Os sinistros com fuga representaram cerca de 11% em 2022 e 2023 do total de atropelamento de peões. “Se houvesse maior sanção sobre o atropelamento com fuga, a curva desse comportamento seria infletida”, apontou Manuel João Ramos, presidente da Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados. “Uma pessoa que não tem a consciência social para entender a sua responsabilidade não deve ser condutora. A Justiça não tem feito muito para reduzir o fenómeno”, acusou. Já Mário Alves responsabilizou o álcool. “As pessoas esperam quatro a cinco horas para se entregar, quando já não têm álcool no sangue. É uma estratégia eticamente horrível. Deixam de prestar socorro”, acusou.
Este ano, a PSP não registou, até ao momento, qualquer morte resultante de atropelamento com fuga, até porque muitos dos suspeitos são identificados mais tarde. Já a GNR registou três vítimas mortais na sequência de acidentes em que o condutor se colocou em fuga. Entre 2019 e até ao momento, as duas autoridades contabilizam 40 peões mortos.