Mais de 1800 crimes: Furtos em supermercados atingem recorde da última década

O número de furtos registados em supermercados atingiu, em 2023, o valor mais elevado da última década, com 1879 crimes denunciados às autoridades policiais. De acordo com os dados do Sistema de Informação das Estatísticas da Justiça (SIEJ), este número supera o recorde anterior, registado em 2016, quando se contabilizaram 1726 ocorrências.

Os dados do SIEJ, citados pelo Jornal de Notícias (JN), revelam que foi na Comarca do Porto que se registou o maior número de participações em 2023, com um total de 594 casos. Este número supera, em 97 ocorrências, a soma das participações verificadas nas comarcas de Lisboa (238), Lisboa Oeste (185) e Lisboa Norte (74).

No total, os distritos de Lisboa e Porto, que incluem a Comarca Porto Este (com apenas 30 furtos reportados em 2023), concentraram 58% dos crimes registados em supermercados no ano passado. Em terceiro lugar surge o distrito de Faro, responsável por 11% das ocorrências.

Desde 2015, ano em que começaram a ser reunidos dados no SIEJ, foram contabilizadas 13 901 participações de furtos em supermercados, representando cerca de 1,5% do total de crimes contra a propriedade cometidos nesse período.

Os anos de 2020 e 2021 registaram os números mais baixos de furtos da década, com 1402 e 1201 casos, respetivamente. Este decréscimo poderá estar relacionado com as restrições impostas durante a pandemia de covid-19, quando o Governo decretou limitações aos horários de funcionamento dos estabelecimentos comerciais.

A evolução dos furtos nos supermercados ao longo dos últimos nove anos tem-se revelado irregular. Nos distritos de Faro, Beja, Évora, Setúbal, Santarém, Leiria, Castelo Branco, Aveiro, Braga e Viana do Castelo, os números têm vindo a aumentar. Já no distrito do Porto, os furtos reportados têm apresentado uma tendência de descida.

Há ainda comarcas como Coimbra, Viseu, Vila Real e Bragança onde a evolução tem sido oscilante, com períodos de subida e descida ao longo dos anos.

Distribuição nega aumento significativo de furtos
O aumento de furtos registado nas estatísticas não é, no entanto, visto como um problema relevante para o setor da distribuição. Em declarações ao Jornal de Notícias, Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), desvalorizou o fenómeno, garantindo que “o tema não tem expressão nos nossos retalhistas”.

“O assunto não tem sido uma preocupação especial e não tem havido cautelas extra sobre este dossier, além das medidas habituais para garantir a segurança dos clientes”, acrescentou.

Entre os casos mais mediáticos de furtos em supermercados nos últimos anos, destaca-se o julgamento do chamado “Gangue dos Híperes”. O grupo, composto por cinco indivíduos com idades entre os 23 e os 24 anos, começou a ser julgado no Tribunal de Beja no ano passado. São suspeitos de ter furtado produtos de hipermercados, incluindo bebidas alcoólicas, alimentos e telemóveis, num valor total de 10 537 euros.

Em Loulé, duas mulheres de 26 e 28 anos foram detidas pela GNR por suspeita de furto, depois de tentarem sair de um supermercado com mais de quatro mil euros em mercadoria sem pagar.

Já na Área Metropolitana de Lisboa, um homem foi recentemente acusado pelo Ministério Público por crimes de furto e roubo. Entre abril e outubro do ano passado, terá entrado em oito supermercados nos concelhos de Almada, Lisboa e Seixal, furtando principalmente bebidas alcoólicas e bacalhau.