Maduro sugere invasão para “libertar” Porto Rico dos EUA
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, fez um controverso apelo para que seja iniciada uma campanha de “libertação” de Porto Rico do controlo dos Estados Unidos, numa declaração que tem gerado repercussões internacionais. As palavras de Maduro surgem pouco depois da sua posse para o terceiro mandato consecutivo como presidente da Venezuela, evento que ocorreu na passada sexta-feira, apesar das críticas internacionais e protestos internos em resposta às alegações de fraude nas eleições de 2023.
O apelo à “libertação” de Porto Rico foi feito durante o encerramento do Festival Internacional Antifascista em Caracas, no sábado. Maduro, evocando a figura do líder revolucionário Simón Bolívar, afirmou que “assim como no norte têm uma agenda de colonização, nós temos uma agenda de libertação”, referindo que a “libertação de Porto Rico está pendente” e que seria alcançada com o apoio de tropas brasileiras. O presidente venezuelano não forneceu mais detalhes sobre as suas intenções, mas o seu discurso gerou preocupação em várias partes do mundo.
A declaração de Maduro vem num momento de crescente tensão entre a Venezuela e os Estados Unidos, após o governo norte-americano ter anunciado uma recompensa de 25 milhões de dólares por informações que levem à captura ou condenação de Maduro. Este gesto sublinha uma intensificação dos esforços dos EUA para desestabilizar o governo venezuelano e apoiar a oposição no país.
Porto Rico, um território dos Estados Unidos desde a Guerra Hispano-Americana de 1898, tem sido um ponto de contenda política e económica. Apesar de ser território dos EUA desde 1917, os portoriquenhos não têm direito a votar nas eleições gerais nem representação no Congresso, devido ao seu estatuto político. Recentemente, em novembro de 2024, a maioria dos eleitores de Porto Rico (57%) expressaram o desejo de que a ilha se tornasse um estado dos EUA, enquanto apenas 12% votaram a favor da independência. No entanto, qualquer mudança no estatuto político da ilha depende da aprovação do Congresso dos EUA.
Apesar da natureza provocatória das declarações de Maduro, muitos especialistas consideram que a possibilidade de uma intervenção militar venezuelana em Porto Rico é remota. Amílcar Antonio Barreto, professor da Northeastern University e especialista em culturas e sociedades latinas, comentou à Newsweek que as palavras de Maduro não devem ser levadas a sério, tanto em Porto Rico, como nos EUA ou no Brasil. De forma semelhante, Christina Ponsa-Kraus, professora de História Jurídica na Columbia Law School, destacou que os portoriquenhos nunca votaram pela independência e que, na verdade, há um forte apoio pela permanência da ilha como território dos EUA, seja como estado ou de outra forma.
John Bolton, ex-conselheiro de segurança nacional dos EUA, também se manifestou sobre a situação, afirmando que os Estados Unidos não devem permitir que Maduro acredite ter ganhado apoio internacional. Segundo Bolton, a perda de impulso da oposição na Venezuela dá margem para que ditadores como Maduro reforcem o seu controlo.
A Casa Branca, por sua vez, tem reiterado o seu compromisso com as aspirações democráticas da Venezuela e a sua disposição para continuar a pressionar Maduro. Após uma reunião entre o presidente dos EUA, Joe Biden, e o opositor venezuelano Edmundo González, o governo norte-americano reafirmou o seu apoio à oposição democrática na Venezuela, destacando que a repressão e as ações antidemocráticas do regime de Maduro não serão ignoradas.
No que diz respeito à situação interna da Venezuela, Maduro começa o seu terceiro mandato mais isolado do que nunca, com os Estados Unidos a oferecer recompensas pela sua captura e pela de outros oficiais do governo venezuelano. Edmundo González, o opositor de Maduro que foi reconhecido pelos EUA como vencedor das últimas eleições, afirmou que planeia retornar à Venezuela para assumir a presidência, embora não seja claro quando e sob que condições isso poderá acontecer, dado que o governo venezuelano já advertiu que será preso caso regresse.
A comunidade internacional, incluindo os EUA e os seus aliados, já indicaram que estão preparados para intensificar as sanções à Venezuela, caso surjam mais provas de repressão e violações dos direitos humanos no país.
Este episódio coloca ainda mais pressão sobre o futuro político da Venezuela, enquanto o país atravessa uma grave crise económica, política e social, e os desafios para o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, se intensificam à medida que ele se prepara para regressar à Casa Branca em 20 de janeiro.