Líder da extrema-direita dos Países Baixos exige deportação de agressores responsáveis por ataques contra israelitas em Amsterdão
O político de extrema-direita neerlandês Geert Wilders voltou a causar polémica ao sugerir a deportação de indivíduos com dupla nacionalidade envolvidos em ataques violentos contra fãs israelitas em Amesterdão. A afirmação surge após confrontos que ocorreram na cidade durante um jogo entre o Ajax Amsterdam e o Maccabi Tel Aviv, onde se registaram episódios de violência com contornos de antisemitismo.
Em declarações esta quarta-feira, Wilders apontou o dedo aos “marroquinos”, responsabilizando-os pelos ataques contra adeptos israelitas. Segundo o líder do Partido para a Liberdade (PVV), estes agressores “querem destruir os judeus”. Como resposta, Wilders propôs que os condenados por envolvimento nestes ataques perdessem a cidadania neerlandesa e fossem deportados, caso tivessem dupla nacionalidade.
Os confrontos ocorreram nas proximidades da partida entre o Ajax e o Maccabi Tel Aviv. Antes e após o jogo, registaram-se cenas de violência entre apoiantes dos dois clubes, intensificando um clima de hostilidade em Amesterdão.
A autarca de Amesterdão, Femke Halsema, denunciou uma série de ataques de “fuga” anti-judaicos perpetrados por indivíduos que, segundo as autoridades, atacaram pessoas que acreditavam ser judias. O relatório oficial da cidade, com 12 páginas, descreve a tensão crescente durante o evento. Entre as situações descritas, o documento refere que alguns apoiantes do Maccabi foram vistos a “destruir objetos” e que pequenos grupos de agitadores, a pé, de trotinete ou de carro, atacaram adeptos do Maccabi e depois dispersaram-se rapidamente.
Apesar de cinco pessoas terem sido hospitalizadas devido aos confrontos, a polícia não efetuou detenções relacionadas com a violência pós-jogo. A falta de prisões e o ambiente de tensão geraram um debate acalorado entre os parlamentares neerlandeses, especialmente após os comentários de Wilders.
Políticos criticam discurso divisivo de Wilders
As declarações de Wilders dividiram a classe política. Rob Jetten, do partido centrista D66, acusou o líder do PVV de “deitar mais lenha na fogueira” em vez de contribuir para a unidade social. Por sua vez, Frans Timmermans, líder do maior bloco parlamentar de centro-esquerda, criticou Wilders por fomentar divisões no país.
Wilders, que é um defensor vocal de Israel e há mais de duas décadas enfrenta ameaças de morte por parte de extremistas islâmicos, justificou as suas declarações com referências à Kristallnacht, o pogrom nazi de 1938. Segundo ele, os ataques em Amesterdão assemelharam-se a uma “caça aos judeus nas ruas”, o que desencadeou críticas de vários setores que consideram o discurso inadequado e incendiário.
O ambiente de polarização foi ainda agravado por uma manifestação em apoio à causa palestiniana, que teve lugar na Praça Dam, em Amesterdão, na noite de quarta-feira. Embora existisse uma proibição de protestos desta natureza na cidade, centenas de manifestantes reuniram-se no local. A manifestação foi dispersada pela polícia, que marcou uma presença forte com agentes a cavalo e deteve alguns dos presentes que se recusaram a abandonar a praça.
Esta mobilização reflete a divisão e o clima de tensão que se vive em Amesterdão, onde os recentes episódios de violência ligados ao futebol parecem ameaçar a longa tradição da cidade como um centro de tolerância.
Entre os críticos dos comentários de Wilders está Itay Garmy, um membro judeu do conselho municipal de Amesterdão, que considerou que este tipo de retórica apenas contribui para isolar ainda mais a comunidade judaica. “Não usem a minha segurança, o meu sofrimento ou o meu medo como judeu para ganhos políticos”, afirmou Garmy, apelando aos políticos para que evitem instrumentalizar questões de segurança judaica.
Garmy sublinhou ainda a importância de promover políticas que unam a sociedade neerlandesa em vez de a dividir, apontando que o discurso de Wilders pode agravar a situação dos judeus no país.