Líbia abre torneiras do petróleo ao máximo para ‘afogar’ efeitos das tensões no Médio Oriente no mercado do crude

O mercado do petróleo tem vivido dias de grande volatilidade. Após uma escalada superior a 8% na semana passada e quase 4% apenas na sessão de ontem, o preço do crude sofreu uma correção hoje, com uma descida impulsionada pela reabertura dos grandes campos de petróleo na Líbia. O país africano voltou a produzir mais de um milhão de barris por dia, após o fim de uma disputa interna que havia interrompido a exploração. Este aumento da produção contribui para estabilizar o mercado, que se viu abalado pelo recente conflito entre Israel e Irão.

A notícia de que a Líbia retomou a sua produção petrolífera total foi recebida com alívio no mercado global. Com esta retoma, o preço do barril de Brent recuou cerca de 3%, para os 78,7 dólares, depois de ter ultrapassado os 81 dólares na segunda-feira, em consequência das tensões geopolíticas no Médio Oriente. Antes do agravamento do conflito, o valor do barril tinha caído para cerca de 69 dólares, refletindo o impacto das flutuações que resultam tanto de eventos políticos quanto da dinâmica da oferta e procura.

Fontes da indústria petrolífera líbia confirmaram ao El Economista que a produção no país voltou a superar um milhão de barris por dia, atingindo os 1,067 milhões de barris durante o último fim de semana. Embora esta marca ainda esteja abaixo dos 1,18 milhões de barris que o país produzia em julho, representa um aumento significativo face aos níveis de agosto, quando a produção caiu para 500 mil barris diários. A queda acentuada foi provocada pelo encerramento das instalações petrolíferas, resultante da disputa entre as duas fações que atualmente dividem o país.

Desde a queda do regime de Muammar Gaddafi, em 2011, a Líbia tem vivido um cenário de instabilidade política, com o controlo dos recursos energéticos a ser um ponto de discórdia constante. A crise de agosto foi despoletada pela luta pelo controlo do Banco Central da Líbia, o que aumentou o risco de novos episódios de violência e instabilidade. Contudo, ambas as fações alcançaram recentemente um acordo, permitindo o retorno da produção petrolífera aos níveis anteriores.

Um país dividido e o impacto no petróleo
A atual divisão política da Líbia é um dos fatores que complica a estabilidade da produção petrolífera. O país está fraturado entre duas administrações rivais: o Governo de Unidade Nacional (GNU), liderado por Abdelhamid Dabeiba e reconhecido pela comunidade internacional, com sede em Trípoli, no oeste do país, e o governo no leste, com sede em Bengasi, escolhido pelo parlamento e liderado por Osama Hamad, sob a tutela do marechal Khalifa Haftar.

As lutas pelo controlo dos recursos têm levado, por diversas vezes, ao encerramento dos campos de petróleo, uma estratégia usada por ambas as partes como forma de pressão política. No entanto, no final de setembro, as facções concordaram em nomear um novo governador para o Banco Central, Naji Issa, resolvendo um dos principais impasses que travava a produção. O cargo é vital para o controlo das receitas provenientes do petróleo, estimadas em milhares de milhões de dólares, e este acordo foi crucial para desbloquear a produção.

O país é um dos principais produtores de petróleo de África, com reservas comprovadas de quase 50 mil milhões de barris. Dependendo das circunstâncias mensais, o país chega a ser o maior produtor de petróleo do continente, sendo responsável por uma fatia significativa dos 8,4 milhões de barris diários produzidos em África. A importância da estabilidade na produção líbia vai além das fronteiras africanas, dado o impacto que o país tem no fornecimento global de crude.

Contudo, apesar do alívio momentâneo trazido pela reabertura dos campos de petróleo, os analistas alertam que o acordo alcançado entre as duas facções pode não ser duradouro. Os pactos anteriores na Líbia foram frequentemente frágeis, e muitos acreditam que o petróleo será novamente utilizado como arma política num futuro próximo. Um cessar-fogo apoiado pelas Nações Unidas em 2020 conseguiu pôr fim aos combates, mas ainda não levou à realização de eleições nacionais nem resolveu a divisão prolongada entre o leste e o oeste do país.

Com a Líbia a retomar a produção de petróleo, o mercado global de crude poderá experimentar algum alívio nos preços a curto prazo. No entanto, a instabilidade política no país e a natureza volátil das relações geopolíticas no Médio Oriente continuam a ser fatores de incerteza. Acresce que o futuro do acordo entre as fações líbias é incerto, e qualquer colapso na produção poderá gerar uma nova onda de volatilidade nos preços do petróleo, numa altura em que as tensões no Médio Oriente já estão a exercer uma pressão significativa sobre o mercado.

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