Legislativas: Imprensa internacional destaca eleições “mais imprevisíveis de sempre” em Portugal
As eleições legislativas do próximo domingo em Portugal têm feito correr muita tinta também na imprensa internacional, que destaca a imprevisibilidade de cenários, com apenas uma coisa dada como certa: António Costa está de saída como primeiro-ministro.
O jornal Politico noticia “as mais imprevisíveis eleições portuguesas de sempre”, analisando as sondagens que indicam que “os blocos formados por partidos de direita e de esquerda estão quase equilibrados e que o partido de extrema-direita Chega poderá ser decisivo”.
A publicação reúne seis pontos essenciais na decisão que os cerca de 10,8 milhões de eleitores portugueses vão fazer no domingo:
1 – O escândalo da demissão de Costa
“A saída abrupta de Costa em novembro passado apanhou todos de surpresa. Governava Portugal desde 2015 e foi reeleito em 2022 com maioria absoluta de assentos no parlamento do país. Mas deixou o cargo depois de ser implicado numa investigação que disse ser ‘incompatível com a dignidade do cargo’ Embora Costa não tenha sido acusado de nenhum crime, alguns dos seus associados mais próximos foram formalmente nomeados como suspeitos e ele é objeto de uma investigação oficial pelo Supremo Tribunal de Justiça”, escreve o Politico.
Na sua versão europeia, o meio de comunicação sublinha as estreias de Luís Montenegro, na liderança da Aliança Democrática, e de Pedro Nuno Santos, “sucessor de Costa”, perante um cenário em que os eleitores estão preocupados com questões de habitação, declínio dos serviços públicos e corrupção.
2 – Ansiedade até à última
“As sondagens sugerem que a votação de domingo poderá ser notavelmente renhida, com o bloco de direita liderado pela Aliança Democrática apenas ligeiramente à frente de um grupo de esquerda liderado pelos Socialistas”, lê-se no mesmo texto, que antecipa problemas na altura de fazer as contas aos assentos parlamentares, já que nenhum partido quer colaborar com o Chega. Ainda antes, “até 20 por cento dos eleitores afirmam estar indecisos e pretendem tomar a sua decisão final nas urnas – tornando o resultado de domingo numa verdadeira disputa”.
3 – Fator Ventura
O Chega de André Ventura é descrito como o ‘fazedor de Reis’ (para dizer, o partido que será decisivo’) nas contas eleitorais – caso a AD vença as eleições. “Montenegro disse repetidamente que não entrará em acordo com a extrema-direita”, escreve o Politico.
O líder do partido de extrema-direita, é também o foco de uma entrevista do jornal inglês The Guardian. “Nunca estivemos tão perto”, diz Ventura no artigo.
Já o El Español coloca o título “Portugal volta às urnas desencantado com o PS e seduzido pela extrema-direita do Chega“, e escreve que “o seu líder, o antigo comentador desportivo André Ventura, conquistou um lugar entre os líderes da extrema-direita europeia: convive com Marine Le Pen, do Rali Nacional Francês, e com o presidente da Hungria, Viktor Orbán”.
4 – Enfraquecimento da esquerda
O jornal destaca a queda da esquerda nas sondagens dos últimos dias, mas avança a possibilidade de, “se os socialistas obtiverem mais votos, espera-se que os restantes partidos de esquerda de Portugal se unam em torno de um governo minoritário liderado por Santos”.
5 – Divisão no Parlamento
O cenário de instabilidade política que assombra o nosso País é também outro dos temas abordados pela imprensa internacional. Afastada a possibilidade de novas eleições, “no futuro imediato, Portugal terá provavelmente de conviver com um parlamento fortemente dividido – e uma extrema direita com quem ninguém quer trabalhar oficialmente”, ainda que os líderes da AD e PS admitam diálogos entre si, caso a caso, em nome da estabilidade.
6 – Ano de eleições europeias e de 50.º aniversário do 25 de Abril
O Politico escreve que “esta é a última votação parlamentar agendada na União Europeia antes das eleições para o Parlamento Europeu, em junho próximo. Se o país virar para a direita, será um golpe para os socialistas que contavam com o governo de Costa entre os poucos redutos que ainda restam”.
Também surge referido o significado de eleições legislativas poucas semanas “antes de Portugal comemorar o 50º aniversário da Revolução dos Cravos, o golpe militar que derrubou a ditadura do Estado Novo. Pela primeira vez desde então, um partido de extrema-direita poderia desempenhar um papel na escolha do próximo governo”.