‘Lágrimas de sereia’ (ou nurdles): os principais responsáveis pelo maior desastre ecológico do mundo e que talvez nunca tenha ouvido falar
‘Nurdles’, mais conhecidos como as ‘lágrimas de sereia’, são um dos piores flagelos da vida marítima a nível mundial. Ao contrário das imensas manchas de pedaços de plástico muitas vezes microscópicos que se vão degradando de pedaços maiores nos rios e oceanos, os ‘nurdles’ representam provavelmente o maior desastre ecológico do qual pode nunca ter ouvido falar.
Os ‘nurdles’ existem desde que o plástico começou a ser produzido em massa pela primeira vez: os pellets formam a base para quase todos os produtos de plástico do planeta – quando são criados, são estendidos em longos fios semelhantes ao esparguete, que depois são cortados em pedaços e embalados, geralmente em sacos de 25 kg, e transportados para todo o mundo. No entanto, os ‘nurdles’ são, na realidade, microplásticos primários, ou seja, são construídos para serem baratos e projetados para serem o mais pequenos possível para facilitar o transporte. São a base do plástico, por outras palavras.
So if 60 billion pounds of #nurdles are made in the US annually, has anyone got a global figure yet? https://t.co/hgumx45lUK
— W.o.Water (@Worldof_Water) January 31, 2022
Todos os anos chegam aos oceanos cerca de 230 mil toneladas de pellets, o que equivale a cerca de 15 mil milhões de garrafas plásticas, um flagelo que tem afetado as praias de todo o mundo, sobretudo as que estão concentradas em áreas industriais. Os ‘nurdles’ conseguem persistir na água durante décadas, o que torna virtualmente impossível provar a sua origem – como resultado, em vez de fabricantes ou Governos assumirem a sua responsabilidade, muitas vezes cabe a pequenos grupos de voluntários lutar contra esta verdadeira maré de plástico.
É possível que nunca tenha ouvido falar em ‘nurdles’, embora tenham sido já encontrados em todos os continentes, à exceção da Antártida. Das Ilhas Galápagos ou Círculo Ártico, são ingeridos por centenas de espécies marinhas que confundem o plástico tóxico com comida.
🚨 Plastic #pellets are the 2nd source of #microplastic pollution. They are small spheres (less than 5mm) and raw materials for all the plastics products sorround us. #breakfreefromplastic #toxictours pic.twitter.com/rd2K79WeZc
— Surfrider Europe (@surfridereurope) January 27, 2022
Embora o foco esteja há muito tempo em itens maiores de resíduos plásticos nos mares, os ‘nurdles’ representam uma ameaça muito mais insidiosa. Grosso modo, são necessários cerca de 600 ‘nurdles’ para fazer uma escova de dentes, 175 para um pequeno saco plástico e 350 para fazer um pote de iogurte. Em 1950, o mundo produzia 1,5 milhões de toneladas de plástico. Na última contagem de 2020, a produção mundial de plástico atingiu cerca de 367 milhões de toneladas.
Apesar dos esforços globais para reduzir os plásticos, em 2021 foi noticiado que os maiores fabricantes mundiais de plástico descartável devem aumentar a sua capacidade de produção em 30% em cinco anos – o que pode significar mais uns milhares de milhões de ‘pellets’ derramados no meio ambiente.
📢There’s still time to sign the petition calling on @IMOHQ to adopt measures needed to stop #nurdles spilling at sea. Add your voice to the cause and help us get over 50,000 signatures! 👉https://t.co/NPNjuAHPWY
📸Hemantha W pic.twitter.com/BV3UnGLHqX— Great Nurdle Hunter (@greatnurdler) November 24, 2021
Este flagelo dos mares pode ser, no entanto, relativamente fácil de combater: os ativistas ambientais estão a pedir que um sistema certificado seja implementado ao longo da cadeia de abastecimento de plástico para garantir que os ‘nurdles’ sejam trabalhados e processados adequadamente e que sejam reclassificados como “materiais perigosos” para forçar as empresas de transporte a evitar a sua perda no mar.
“As ‘pellets’ são o fruto mais fácil da poluição microplástica”, lembrou Tom Gammage, ativista dos oceanos da Agência de Investigação Ambiental. “É literalmente apenas uma questão de as pessoas serem cuidadosas ao lidar com eles. Se não conseguirmos controlar as ‘pellets’, não conseguiremos nada.”