Kamala Harris acusada de plagiar história de Martin Luther King Jr. em livro que a lançou na carreira política

A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, enfrenta acusações de plágio relacionadas ao seu livro Smart on Crime: A Career Prosecutor’s Plan to Make Us Safer (O Plano de uma Procuradora de Carreira Para Nos Tornarmos Mais Seguros), que ajudou a lançar a sua carreira política. De acordo com as alegações, Harris terá copiado mais de uma dúzia de secções do livro sem a devida citação, incluindo uma história da sua infância que parece ser semelhante a um relato partilhado pelo líder dos direitos civis, Martin Luther King.

No livro, publicado em 2009, quando Harris era procuradora distrital de São Francisco, a agora vice-presidente descreve um episódio da sua infância durante o movimento pelos direitos civis. Escreve: “A minha mãe costumava rir quando contava a história de uma vez em que eu estava a fazer birra em criança. Ela abaixou-se e perguntou-me: ‘Kamala, o que está errado? O que queres?’ e eu gritei de volta: ‘Fweedom’”.

Esta narrativa, no entanto, ecoa de perto uma história contada pelo reverendo Dr. Martin Luther King. Em 1965, numa entrevista à revista Playboy, King recordou um momento durante uma manifestação em Birmingham, onde um polícia branco abordou uma jovem afro-americana e perguntou-lhe: “O que queres?” Ao que a menina, com cerca de sete ou oito anos, respondeu olhando-o nos olhos: “Fee-dom”.

As semelhanças entre os dois relatos foram inicialmente destacadas por The New York Post e outros meios de comunicação, reacendendo o debate sobre a originalidade da obra de Harris.

Além deste episódio, as acusações de plágio contra Kamala Harris estendem-se a outras partes do livro. Stefan Weber, um académico austríaco conhecido como o “caçador de plágio”, investigou o conteúdo da obra e acusou a autora de copiar várias passagens sem citação adequada. Segundo o académico, os casos variam entre “transgressões menores” e “infrações mais graves”.

Entre os exemplos apontados, Weber identificou longos trechos sobre uma iniciativa judicial comunitária em Nova Iorque que, alegadamente, foram copiados diretamente da Wikipédia. Além disso, o investigador argumenta que Harris terá utilizado dados estatísticos sobre taxas de graduação no ensino secundário retirados de um relatório da Associated Press, publicado pela NBC News, sem atribuição.

Em algumas passagens do livro, as semelhanças com artigos de outros meios de comunicação são notórias, e partes inteiras parecem ter sido extraídas de comunicados de imprensa emitidos pelo próprio gabinete de Harris, incluindo o que Weber considera “exageros enganosos” sobre os seus sucessos enquanto procuradora.

As acusações rapidamente foram aproveitadas pelos opositores republicanos de Kamala Harris. JD Vance, companheiro de candidatura de Donald Trump (como vice-presidente) nas eleições, partilhou as comparações e as notícias sobre as acusações nas redes sociais, afirmando: “Kamala nem sequer escreveu o seu próprio livro!”. Donald Trump Jr., o filho mais velho do ex-presidente, acrescentou que as alegações são “mais uma prova de que Kamala Harris é uma fraude”.

Harris co-escreveu o livro com Joan O’C Hamilton, uma colaboradora profissional, numa tentativa de moldar a sua imagem como jovem procuradora em ascensão na Califórnia. Smart on Crime foi lançado como um manifesto político, apresentando as suas propostas para reformar o sistema de justiça criminal e reduzir o ciclo de reincidência.

O livro foi crucial para a campanha bem-sucedida de Kamala Harris ao cargo de procuradora-geral da Califórnia no ano seguinte. A editora descreveu a obra como uma abordagem prática para reformar o sistema judicial, afirmando: “Harris destrói as antigas distinções baseadas em escolhas falsas e mitos. Ela apresenta soluções práticas para tornar o sistema de justiça criminal verdadeiramente, e não apenas retoricamente, duro”.

Stefan Weber, cujas descobertas foram publicadas numa investigação conjunta com o ativista conservador Christopher Rufo, já tinha anteriormente conduzido investigações semelhantes contra académicos e políticos alemães, ganhando um perfil internacional. Embora alguns dos seus alvos tenham sido posteriormente inocentados das acusações de plágio, Weber tem sido alvo de críticas, incluindo de antigos colegas.

Numa entrevista ao The New York Times, Peter Bruck, antigo mentor de Weber, descreveu-o como um “perseguidor meticuloso” que, ao longo do tempo, se transformou num “detrator ilegítimo”. As suas investigações, embora controversas, têm frequentemente gerado debates acalorados sobre os limites da originalidade e a ética no mundo académico e político.

Kamala Harris e a sua equipa de campanha ainda não comentaram oficialmente as alegações de plágio.

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