Kailasa: o país que não existe mas participou em duas reuniões da ONU

Os Estados Unidos de Kailasa participaram em duas reuniões da Organização das Nações Unidas (ONU), mesmo sem fazer parte dos 193 Estados-membros, dado que nem é um Estado oficial.

O envolvimento do ‘país’ em reuniões internacionais gerou descontentamento e obrigou a ONU a garantir que não vai considerar as declarações feitas pelos seus representantes em Genebra, na Suíça.

Um funcionário da ONU admitiu à BBC por e-mail que “representantes de Kailasa participaram de duas sessões públicas em Genebra”.

Perante esta controvérsia, o responsável garantiu, no entanto, que a participação do Kailasa foi “irrelevante” para os assuntos debatidos.

O ‘país’ e seu fundador

O ‘país’ terá sido fundado em 2019 pelo autoproclamado guru hindu Nithyananda Paramashivam, segundo o mesmo, numa ilha que afirma ter comprado ao Equador, que desmentiu entretanto o negócio.

O nome Estados Unidos de Kailasa foi escolhido com base numa montanha situada nos Himalaias que os cidadãos do ‘país’ acreditam ser a morada do deus hindu Shiva, o que lhes dá força dado que fazem parte da população “dois mil milhões de hindus praticantes”, segundo o site Kailasa.

O mesmo site adianta que o ‘país’ tem uma bandeira, uma constituição, um banco central, um passaporte e um emblema.

Em janeiro de 2023, os Estados Unidos de Kailasa afirmaram ter assinado um acordo com as autoridades da cidade de Denver, nos Estados Unidos da América (EUA), onde alegam ter sido reconhecida a sua existência.

O alegado fundador do “primeiro Estado soberano dos hindus”, como se intitulam, é procurado pela justiça indiana para responder a acusações dos crimes de violação e agressão sexual, após ter sido feita uma denúncia por uma discípula que alega que estes crimes foram cometidos em 2010.

Na sequência desta revelação, Paramashivam foi detido pelas autoridades antes de ser libertado sob o pagamento de fiança. Mais tarde, em 2018, foi acusado.

Dias antes de sair da Índia, foi novamente feita uma denúncia, desta vez por rapto de crianças que o autoproclamado guru hindu terá escondido no seu ashram, ou mosteiro, localizado no Estado de Gujarat, no mesmo país.

Atualmente, não é conhecido o paradeiro de Nithyananda que negou todas estas acusações.

O guru chegou a publicar no Twitter uma foto do seu suposto embaixador participando do evento da ONU e depois apresentou, na mesma rede social, os representantes diplomáticos do seu suposto Estado em diversas partes do mundo, incluindo Reino Unido, Canadá e Caribe.