Jovem passou 16 anos na prisão por homicídio que não cometeu. Agora vai receber uma indemnização de milhões de euros

Kirstin Blaise Lobato, uma norte-americana que passou 16 anos na prisão por um crime que sempre afirmou não ter cometido, foi indemnizada em 32 milhões de euros pelo Departamento de Polícia Metropolitana de Las Vegas. A decisão, tomada por um júri federal, reconhece que a jovem foi injustamente condenada por homicídio em 2001, quando tinha apenas 18 anos.

O caso remonta a julho de 2001, quando o corpo mutilado de Duran Bailey, um sem-abrigo, foi encontrado perto de um caixote do lixo em Las Vegas. Kirstin Lobato foi detida e interrogada sem a presença de um advogado, sendo posteriormente acusada do homicídio.

Durante o interrogatório, a polícia alegou que a jovem confessou o crime. Contudo, os advogados de Lobato argumentaram que a declaração foi mal interpretada. A jovem teria descrito um incidente anterior, em que usou uma faca para se defender de uma tentativa de agressão sexual, mas que não estava relacionado com o homicídio de Bailey.

Os problemas na investigação foram além da confissão. O júri concluiu que dois detetives da polícia de Las Vegas, Thomas Thowsen e James LaRochelle, fabricaram provas contra Lobato. Por isso, além da compensação milionária, os detetives foram condenados a pagar cerca de 9 mil euros cada um à ex-reclusa.

Álibi ignorado e erros judiciais

Durante o processo, Kirstin Lobato apresentou um álibi sólido, sustentado por registos telefónicos e testemunhas que confirmavam que estava na sua cidade natal, a cerca de 214 quilómetros de Las Vegas, no momento do crime. Além disso, ela alegou nunca ter conhecido a vítima.

Mesmo assim, Lobato foi inicialmente condenada por homicídio em primeiro grau. Em 2004, a sentença foi anulada devido a falhas na representação legal, mas, num novo julgamento em 2006, foi condenada por homicídio culposo.

A viragem no caso só aconteceu em 2017, quando o Supremo Tribunal do Nevada anulou a condenação com base em novas evidências forenses. Entre estas, destacou-se a análise da ausência de ovos de mosca varejeira no corpo da vítima, que indicava que o crime ocorreu num período em que Lobato estava comprovadamente fora de Las Vegas.

Após ser libertada em 2017, Kirstin Lobato iniciou uma longa batalha legal contra os detetives responsáveis pelo caso e o Departamento de Polícia Metropolitana de Las Vegas. Em 2018, apresentou um processo onde denunciou as falhas na investigação que arruinaram quase duas décadas da sua vida.

Na passada quinta-feira, o júri decidiu a favor de Lobato, determinando que ela fosse indemnizada em 32 milhões de euros pelos danos causados. A decisão foi celebrada como um marco na luta contra injustiças judiciais nos Estados Unidos.

Lobato manteve a sua inocência ao longo de todo o processo, afirmando sempre que foi vítima de uma investigação negligente e de um sistema que falhou em protegê-la. A indemnização agora recebida é vista como uma forma de reparação, embora os anos perdidos atrás das grades sejam irrecuperáveis.

Este caso volta a trazer à tona o debate sobre erros judiciais e os riscos associados à má conduta de autoridades na recolha de provas e condução de investigações. Para Kirstin Lobato, a vitória judicial é um passo importante na reconstrução da sua vida, mas também um alerta para a necessidade de reformas no sistema de justiça criminal.