Jean-Marie Le Pen, fundador da Frente Nacional francesa, morre aos 96 anos

Jean-Marie Le Pen morreu, esta terça-feira. O fundador da Frente Nacional, partido de extrema-direita de França, e também pai de Marine Le Pen, atual líder do partido, tinha 96 anos.

A notícia foi avançada pela família à AFP, afirmando que Jean-Marie Le Pen “rodeado pela família, foi chamado de volta a Deus pelas 11h00 [12h00 de Lisboa].

Desde o seu primeiro mandato parlamentar em 1956 até ao seu último suspiro, Le Pen foi uma figura de destaque da extrema-direita francesa, marcando a vida política do país através de provocações, escândalos e vitórias eleitorais históricas, e a família de políticos é uma das mais influentes da Europa.

Uma infância difícil e o início de uma carreira turbulenta

Jean Louis Marie Le Pen nasceu a 20 de junho de 1928, numa família humilde em La-Trinité-sur-Mer, um porto de pesca na região da Bretanha. Após perder o pai, um marinheiro-pescador, aos 14 anos, Le Pen foi criado por uma mãe costureira. Descrito como indisciplinado e brigão durante a infância, foi expulso de várias escolas, mas conseguiu completar o ensino secundário e prosseguir estudos de Direito em Paris. Já na universidade, destacou-se pelo seu discurso inflamado e chegou a presidir à associação estudantil “Corpo”, da qual foi forçado a sair devido ao seu comportamento verbal excessivo.

A entrada na política e a ascensão ao parlamento

Aos 16 anos, tentou, sem sucesso, alistar-se nas Forças Francesas do Interior devido à sua idade. Em 1954, com 26 anos, Le Pen participou como paraquedista na guerra da Indochina. Após o fim do conflito e o recuo das tropas francesas, que considerou uma humilhação, ingressou na política, juntando-se ao movimento de defesa dos comerciantes e artesãos liderado por Pierre Poujade.

Nas eleições legislativas de 1956, Le Pen, agora adotando o nome Jean-Marie, foi eleito deputado com o movimento poujadista, que obteve mais de 11% dos votos. Na Assembleia Nacional, destacou-se pelo comportamento provocador, antagonizando frequentemente os comunistas, como demonstrado numa célebre intervenção onde recordou as mortes na guerra da Indochina.

O nascimento da Frente nacional

Após romper com Poujade, por o considerar demasiado moderado, Le Pen fundou o Front National des Combattants e mais tarde o Front National pour l’Algérie Française. Em 1972, liderou o recém-criado Frente Nacional (FN), formado a partir de vários grupos de extrema-direita, incluindo o Ordre Nouveau. Durante a década de 1970, o FN teve uma presença eleitoral marginal, mas Le Pen persistiu, construindo pacientemente a estrutura do partido.

Conhecido pelas suas declarações polémicas, incluindo comentários sobre o Holocausto e outros temas sensíveis, Le Pen enfrentou múltiplas condenações judiciais. Apesar disso, conseguiu consolidar o FN como uma força política significativa, sendo eleito deputado europeu em 1984 e retornando ao parlamento francês em 1986, graças ao sistema proporcional.

A sua maior vitória eleitoral ocorreu em 2002, quando surpreendeu ao passar à segunda volta das eleições presidenciais, derrotando o primeiro-ministro socialista Lionel Jospin. Com um discurso centrado na “preferência nacional” e na segurança, Le Pen obteve quase 17% dos votos na primeira volta, mas foi derrotado por Jacques Chirac na segunda.

O legado e o afastamento

Nos anos seguintes, o FN continuou a crescer sob a liderança de Le Pen, mas o seu declínio político iniciou-se após as eleições de 2007, quando obteve apenas 10,44% dos votos. Em 2011, a sua filha Marine Le Pen sucedeu-lhe na liderança do partido, adotando uma estratégia de “diabolização” que Jean-Marie criticou veementemente.

A relação com Marine deteriorou-se, culminando na sua expulsão do partido em 2015, após mais declarações controversas. Le Pen retirou-se da vida pública em 2019, deixando um legado marcado por divisões e polémicas.

Jean-Marie Le Pen será enterrado na sua terra natal, La-Trinité-sur-Mer, onde, segundo confidências à L’Express, desejava que a sua lápide tivesse apenas o seu nome próprio. O “Menhir”, comoe ra conhecido, será lembrado como uma figura polarizadora, cuja influência moldou a política francesa durante décadas.