Itália ofereceu apoio a Al-Assad cinco dias antes da sua queda, revelam telegramas do Governo sírio

Roma tentou manter canais de comunicação com as autoridades sírias lideradas por Bashar al-Assad e ofereceu mesmo apoio ao ditador sírio cinco antes da sua queda. Segundo informações da publicação ‘The Independent Arabia’, o chefe da inteligência externa italiana, Giovanni Caravelli, terá ligado para o seu homólogo sírio para oferecer apoio a Damasco diante do avanço dos rebeldes.

“Recebi um telefonema do general Giovanni Cavalarelli, chefe do Serviço de Inteligência italiano (porque ele o pediu), onde destacou o apoio do seu país à Síria neste momento difícil. Explicando quão importante será o apoio russo à Síria neste momento”, pode ler-se na tradução do relatório enviado pelo chefe da Divisão de Segurança Geral, Hussam Luqa, a Assad.

Recorde-se que em 2012, o Governo italiano retirou o seu embaixador da Síria e suspendeu todas as atividades diplomáticas devido à violência “inaceitável” de Bashar al-Assad. Oficialmente, a posição do país europeu relativamente ao regime sírio não mudou ao longo dos anos, e a UE ainda mantém sanções contra Damasco. No entanto, por ‘trás das cortinas’, o cenário era outro.

A ligação tornada pública salientou que Itália teria demonstrado o seu apoio ao regime sírio ocorreu meses depois de Roma ter iniciado um processo de normalização das relações diplomáticas com Damasco.

Em julho último, Itália nomeou um novo embaixador na Síria , provavelmente para “não dar o monopólio” da situação neste país árabe à Rússia, salientou na altura o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Antonio Tajani, o que tornou o primeiro país do G7 a restaurar um embaixador em Damasco.

Pouco depois, o Governo italiano retirou-se discretamente de um grupo da ONU que monitorizava os direitos humanos na Síria – um grupo que conta com representações de outros países como França, Alemanha, Holanda, Qatar, Turquia, Estados Unidos e Reino Unido. Segundo o jornal italiano ‘Il Foglio’, a retirada deste grupo de Roma já estava no ar há algum tempo.

“A decisão do Governo italiano é vergonhosa e demonstra mais uma vez – especialmente à luz da nomeação do novo embaixador em Damasco – que a Itália não tem interesse em garantir o respeito pelos direitos humanos e pelo direito internacional”, sustentou Ranim Ahmed, diretor de comunicações do grupo de direitos humanos ‘Campanha Síria’. “Itália deve ser lembrada que cada medida tomada para apertar a mão do ditador sírio viola tanto as decisões dos tribunais europeus, como a de França, que emitiu um mandado de prisão internacional contra Assad, como as do Tribunal Internacional de Justiça”, acrescentou.