Irão tem 200 kg de urânio enriquecido e está prestes a criar armas nucleares, alerta chefe da Agência Internacional de Energia Atómica
O Irão possui atualmente cerca de 200 quilogramas de urânio enriquecido até 60% de pureza, uma concentração alarmantemente próxima dos 90% necessários para produção de armamento nuclear. O alerta foi dado por Rafael Grossi, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), durante o Fórum Económico Mundial em Davos.
Segundo uma métrica da AIEA, a quantidade de urânio acumulada pelo Irão, se enriquecida ainda mais, seria suficiente para a produção de cerca de cinco armas nucleares. Grossi destacou uma recente aceleração significativa no enriquecimento de urânio a este nível, multiplicando por sete a taxa de produção.
“Embora não tenhamos evidências de que o Irão esteja atualmente a construir uma arma nuclear, o volume de urânio enriquecido que acumularam coloca-os muito próximos do nível necessário para armas nucleares,” afirmou Grossi.
A preocupação é agravada pela falta de cooperação plena de Teerão com os inspetores da AIEA. Grossi revelou que a agência não tem tido acesso integral às instalações nucleares iranianas, o que dificulta a monitorização e verificação das suas atividades nucleares.
Os Estados Unidos e Israel têm acusado repetidamente o Irão de tentar desenvolver armas nucleares, acusações que Teerão nega veementemente, insistindo que o seu programa nuclear é exclusivamente para fins pacíficos. Contudo, as suspeitas levaram à imposição de duras sanções económicas por parte do Ocidente.
A situação agravou-se após a decisão do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, de abandonar o acordo nuclear de 2015 (Plano de Ação Conjunto Global), que tinha limitado a capacidade do Irão de enriquecer urânio em troca de alívio nas sanções. Desde então, o Irão tem expandido progressivamente as suas atividades nucleares, numa escalada que preocupa a comunidade internacional.
Repercussões globais e apelo à paz
Além de abordar a situação no Irão, Grossi aproveitou a sua participação no Fórum Económico Mundial para elogiar o programa nuclear civil da Índia, descrevendo-o como “um dos maiores e mais diversificados do mundo”. Grossi destacou a adesão da Índia aos mais elevados padrões de segurança estabelecidos pela AIEA, referindo ainda os esforços para integrar o país no Grupo de Fornecedores Nucleares.
No entanto, Grossi sublinhou a importância de evitar novos testes nucleares, tanto na Ásia do Sul como globalmente, para preservar a paz e a segurança mundial. Recordou que os últimos testes realizados por Índia e Paquistão ocorreram em 1998, e apelou à contenção para evitar uma nova corrida armamentista.
Com as tensões a aumentar, Grossi reforçou o compromisso da AIEA em monitorizar de perto o programa nuclear iraniano e apelou à comunidade internacional para promover o diálogo como forma de resolução pacífica. A falta de transparência por parte de Teerão permanece um dos principais obstáculos para garantir que o urânio acumulado não seja utilizado para fins militares.
A situação continua a evoluir, e a comunidade internacional observa atentamente os desenvolvimentos, conscientes do impacto que um eventual programa de armas nucleares no Irão poderia ter na segurança regional e global.