Inflação: Será que aprendemos com os anos 70 e 80?

Os acontecimentos decorridos nos anos de 1970 e 1980 são úteis para fazer uma análise do impacto actual da inflação nos mercados de capitais. Em ambos os períodos, o disparar da inflação foi desencadeado por um choque no preço da energia, e nas duas vezes os bancos centrais intervieram para a tentar controlar. Essa intervenção levou os mercados de acções a registarem severas correcções.
Mas quando é que estes começam a recuperar? «Uma análise da inflação e das taxas de juro mostra que os preços das acções começaram a subir novamente, exactamente quando as taxas de juro a curto prazo e as taxas de inflação atingiram o pico. Isso é notável porque, naqueles momentos, nem os números macroeconómicos nem os lucros corporativos sustentaram a reviravolta no sentimento económico», explica Thomas Tilse.

Na recessão de 1974, por exemplo, os indicadores de sentimento económico, como os PMI, não atingiram os seus mínimos até cerca de seis meses após os primeiros sinais de recuperação nos mercados de acções. Os lucros corporativos também continuaram a cair significativamente.
«Portanto, esta é a primeira lição dos anos 1970 e 1980: os mercados de acções tentam antecipar os desenvolvimentos reais. Choques inflacionários severos pesam obviamente no sentimento dos players do mercado, a tal ponto que os mercados animam-se quando sentem que a inflação pode ter atingido o pico. E isso marca o início da recuperação», sublinha.

E existem algumas semelhanças com a situação actual a esse respeito, como o facto de o Dax ter recuperado a partir de Setembro de 2022, quando a inflação alemã ultrapassou os 11%, tendo aumentado 30% desde então.
A segunda lição das décadas de 1970 e 1980 é que, no caso de grandes choques, os mercados de acções concentram-se nos factores que desencadearam a crise. Se o impacto destes diminuir, como se está a assistir a uma descida do preço do gás na Europa, o alívio relacionado com isto é mais importante do que qualquer outra coisa.

No entanto, não é assim tão simples, porque existem outros factores que pesam, como os juros altos, aumento de salários e queda no consumo. O especialista considera que a actividade deve permanecer moderada por algum tempo. Para além disso, sublinha que o sector financeiro está a encontrar dificuldades para se adaptar ao aumento muito rápido das taxas de juro. O sector da construção e imobiliário também começa a sentir o impacto.
«Então, porque é que os mercados ainda estão a desenvolver-se bem? Primeiro, alguns indicadores de sentimento económico, como o índice ifo (Índice Ifo Pan Germany Business Climate), recuperaram claramente das mínimas do ano passado… Em segundo, as expectativas de lucros corporativos são melhores do que sugerem as perspectivas cautelosas», explica.

Destaca ainda outra semelhança com as décadas de 1970 e 1980, onde inicialmente as empresas beneficiam de uma recuperação da inflação porque podem forçar os aumentos de preços, como os que se têm registado no sector de energia, bens de luxo, alimentos ou carros.
«Quanto maior o choque inflacionário e o número de riscos potenciais, maiores os ganhos potenciais de acções quando os mercados se acalmarem. No entanto, os formuladores de políticas e os banqueiros centrais precisam de tomar medidas corajosas para garantir tal desenvolvimento», sublinha Thomas Tilse.