“Imigração ilegal não é sinónimo de criminalidade”, avisa presidente do Observatório de Segurança

O presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo considera que a operação policial de quinta-feira no Martim Moniz quis contrariar o “sentimento de insegurança que se diz existir”, mas avisou que “imigração ilegal não é sinónimo de criminalidade”.

Em declarações à Lusa, Francisco Rodrigues admitiu que as imagens de dezenas de imigrantes encostados às paredes para uma revista policial “pode levar a condicionar a perceção de algumas pessoas relativamente à dicotomia segurança e insegurança” na relação com as comunidades estrangeiras.

“Mas não podemos é estar a entender a imigração legal ou ilegal como sinónimo de criminalidade, porque “não é”, afirmou.

Mesmo nos casos dos imigrantes irregulares não existem dados que apontem para riscos de criminalidade, acrescentou.

“Há muita gente que advoga que o sentimento de insegurança está presente na sociedade portuguesa, embora eu contrarie essa ideia. Contudo, esta operação inscreve-se numa estratégia para repor o sentimento de segurança”, salientou Francisco Rodrigues.

“Eu quero acreditar que a esmagadora maioria do povo português entende que vivemos num país seguro e não é por existir determinado tipo de operações policiais que pode dar a entender que existe insegurança”, disse o presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT), que não quis pronunciar-se sobre a operação.

O líder da comunidade do Bangladesh em Lisboa, Rana Taslim Uddin, considerou hoje “inaceitável” a operação policial com “meios excessivos” no Martim Moniz, que cria uma má imagem dos imigrantes sem ter sido detetado qualquer crime entre os seus compatriotas.

“Aquelas pessoas encostadas na parede parece que são criminosos” e isso é “o que fica” das imagens da operação policial, afirmou à Lusa Rana Taslim Uddin, que responsabiliza também a atuação das forças de segurança como fatores para o aumento do racismo, particularmente contra os imigrantes do subcontinente indiano, particularmente do Bangladesh, Nepal e Índia.

A operação também já foi criticada pelo presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho (PS), que pediu a demissão da ministra da Administração Interna.

A operação policial de quinta-feira no Martim Moniz resultou na detenção de duas pessoas e na apreensão de quase 4.000 euros em dinheiro, bastões, documentos, uma arma branca, um telemóvel e uma centena de artigos contrafeitos.

Em comunicado, o Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis) da PSP esclarece uma pessoa foi detida por posse de arma proibida e droga e outra por ser suspeita de pelo menos oito crimes de roubo.

A operação foi acompanhada por uma procuradora da República e foram cumpridos seis mandados de busca não domiciliária.

O aparato policial na zona, onde moram e trabalham muitos imigrantes, levou à circulação de imagens nas redes sociais mostrando dezenas de pessoas na Rua do Benformoso encostadas à parede, de mãos no ar, para serem revistadas pela polícia.