Imigração faz aumentar criminalidade é “um mito”, aponta especialista: perfil dos presos estrangeiros é diferente dos imigrantes em Portugal
O perfil da população estrangeira nas cadeias portuguesas é diferente do perfil da população imigrante residente, de acordo com uma análise da socióloga Catarina Reis Oliveira, ex-diretora do Observatório das Migrações, citada pelo jornal ‘Público’. “Isso evidencia que não se pode estabelecer relação entre a evolução dos imigrantes residentes e da criminalidade e reclusão por nacionalidade”, apontou a especialista.
Entre as 10 nacionalidades mais representadas nos reclusos, em 2023, há cidadãos de países que não estão no top 10 da população residente, casos de Espanha, Marrocos, Roménia, Ucrânia e São Tomé e Príncipe. Na população imigrante, o ranking é liderado por Brasil, seguido de Angola, Cabo Verde, Reino Unido, Índia, Itália, Guiné-Bissau, Nepal, China e França.
Entre a população prisional estrangeira, Brasil lidera, com 27,9% do total, seguido de Cabo Verde, com 21,5%. Depois Guiné-Bissau (7,8%), Angola (6,1%), Roménia (5,6%), Espanha (3,1%), Marrocos (2,6%), São Tomé e Príncipe (2,2%), Ucrânia (1,4%) e França (1,3%), num total de 2.036 presos.
No que diz respeito aos presos preventivos, os perfis também não são coincidentes: os cidadãos de países europeus respondem por 49,6% dos reclusos em prisão preventiva, com destaque para Espanha, com 64,1%, ao passo que cidadãos da América do Sul representam 43,6%, com destaque para o Brasil, com 43,5% desse total – já 30,3% dos reclusos em prisão preventiva chegaram de África, em particular marroquinos, com 65,4%.
“Estas flutuações estão associadas à sobrerrepresentação de estrangeiros em determinados tipos de crimes, nos quais Portugal colabora no desmantelamento de redes em contextos internacionais. Estes casos aumentam o número de reclusos, mas não têm relação com a imigração. São muitas vezes indivíduos em trânsito, associados a práticas internacionais, e não refletem especificidades do contexto português”, afirmou Catarina Reis Oliveira.
Ou seja, os dados sobre o país de residência dos reclusos mostraram que “não há nacionalidades mais propensas ao crime, e é uma coincidência, muitas vezes, terem sido presos pelas autoridades portuguesas”, salientou a especialista, classificando como “um mito” a ideia de que o aumento da imigração traz mais criminalidade.