“Há milhares na administração pública que pagam para trabalhar”: Fesap arrasa Montenegro após declarações sobre salário de Costa Neves
As declarações do primeiro-ministro, Luís Montenegro, durante a tomada de posse do novo secretário-geral do Governo, Carlos Costa Neves, geraram uma resposta contundente da Federação dos Sindicatos da Administração Pública e de Entidades com Fins Públicos (Fesap). José Abraão, secretário-geral da organização, ironizou as afirmações de Montenegro, sublinhando que muitos trabalhadores da função pública vivem uma realidade onde “pagam para trabalhar”.
Montenegro afirmou que Carlos Costa Neves, ao aceitar o cargo de secretário-geral do Governo, estaria a “pagar para trabalhar”, já que o rendimento associado às suas novas funções seria inferior ao que receberia como reformado. Esta observação, feita em tom elogioso, não passou despercebida.
José Abraão reagiu com ironia: “Há anos que dizemos isto: há milhares de trabalhadores na administração pública que pagam para trabalhar e, por consequência, é bom que se passe das palavras aos atos”. Em declarações à TSF, o líder sindical aproveitou para criticar a “política de baixos salários” e reforçar a necessidade de uma valorização real dos trabalhadores.
Abraão defendeu que a discussão sobre salários na administração pública deve incluir os dirigentes. “Os salários de muitos dirigentes são baixos e, em muitos casos, o trabalho que fazem não é sequer reconhecido. É hora de o Governo tomar consciência deste mundo real”, afirmou.
O dirigente sindical apelou à implementação de medidas concretas para resolver problemas históricos na administração pública, como a disparidade salarial. “Temos trabalhadores com 15 ou 20 anos de serviço que ganham o mesmo que quem acabou de ingressar na função pública. É uma situação insustentável.”
Abraão reforçou que salários dignos são essenciais para garantir uma administração pública eficiente e de qualidade. “Quando se fala em atrair e reter os melhores profissionais, é necessário criar condições reais, começando por pagar salários justos.”
Luís Montenegro, durante a cerimónia de posse de Carlos Costa Neves, destacou a dedicação e o sacrifício pessoal do novo secretário-geral, sublinhando que este abdicaria de rendimentos mais elevados para integrar o Governo. O gabinete do primeiro-ministro confirmou que Costa Neves terá um vencimento de cerca de seis mil euros, nos termos do Decreto-Lei nº 43-B/2024. Para assumir o cargo, abdicará das pensões da Segurança Social, da Caixa Geral de Aposentações e da subvenção vitalícia a que teria direito como ex-titular de cargo político.
Esta nomeação surge após a polémica envolvendo o primeiro nome indicado pelo Governo, Hélder Rosalino, que renunciou ao cargo três dias depois de ter sido anunciado, devido a críticas públicas sobre o vencimento que iria auferir – superior a 15 mil euros mensais.
Montenegro defendeu que a escolha de Costa Neves simboliza “um novo tempo para a administração pública”, que visa torná-la mais eficiente e ágil. Contudo, o primeiro-ministro reconheceu que a reforma enfrentará resistências. “Não estamos a dar um passo maior do que podemos, mas também não estamos a alimentar razões para continuar a adiar esta reforma”, afirmou.
Carlos Costa Neves, no seu discurso de tomada de posse, destacou a necessidade de uma reforma estrutural na administração pública, identificada há muito como prioridade, mas sistematicamente adiada. O novo secretário-geral comprometeu-se com uma abordagem focada na racionalização, transparência e eficiência, enfatizando que o sucesso da missão dependerá de uma cultura de resultados e de valorização profissional.
Para a Fesap, as declarações de Montenegro e a nomeação de Costa Neves reforçam a necessidade de priorizar os trabalhadores da base da administração pública. José Abraão deixou claro que a federação continuará a pressionar o Governo para que medidas concretas sejam tomadas.