Há 10 anos, caiu o BES. Esta é a história de sucesso e tragédia de uma das instituições financeiras mais antigas e respeitadas de Portugal
Marca-se hoje os 10 anos desde a resolução do Banco Espírito Santo (BES), um evento marcou profundamente a história financeira de Portugal e afetou a vida de muitas pessoas.
O BES foi fundado em 1869 por José Maria do Espírito Santo e Silva, um visionário empreendedor de Lisboa. Começando como uma casa bancária privada chamada “José Maria do Espírito Santo & Companhia”, o banco rapidamente cresceu e se consolidou como uma das instituições financeiras mais importantes do país. Em 1920, após uma fusão, tornou-se o Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa.
Durante mais de um século, o BES prosperou sob a gestão da família Espírito Santo. Expandiu os seus negócios para incluir uma vasta gama de serviços financeiros, desde banca de retalho até investimentos, seguros e gestão de ativos. A expansão internacional nas décadas de 1970 e 1980 levou o BES a mercados como Brasil, Espanha, Estados Unidos e África, fortalecendo ainda mais sua posição global.
Problemas e desafios
No entanto, no início dos anos 2000, o BES começou a enfrentar problemas significativos. Internamente, a estrutura do banco tornou-se cada vez mais complexa, com várias holdings e empresas associadas que dificultavam a transparência e a supervisão. Externamente, a crise financeira global de 2008 e a subsequente crise da dívida soberana europeia tiveram um impacto devastador no sistema bancário português.
A situação do BES agravou-se dramaticamente em 2014, quando vieram à tona várias irregularidades financeiras no Grupo Espírito Santo (GES), o conglomerado controlado pela família Espírito Santo que tinha uma grande participação no banco.
A queda
Em 2014, começaram a surgir evidências de que o Grupo Espírito Santo (GES), controlado pela família Espírito Santo enfrentava sérios problemas financeiros. O BES estava muito exposto à dívida do GES, que se revelou problemática. Com os problemas do GES a tornarem-se públicos, a confiança dos investidores começou a desaparecer e o valor das ações do BES caiu. Não era apenas uma questão financeira, mas também de reputação.
Em julho de 2014, a situação chegou ao ponto de rutura. O Banco de Portugal descobriu um buraco financeiro nas contas do BES, estimado em 4,9 mil milhões de euros, resultado de perdas significativas ligadas ao GES e outras práticas de gestão duvidosas.
As tentativas de salvar o banco falharam. A administração do BES implementou medidas de emergência, mas não foram suficientes para conter a crise. A única solução viável foi a intervenção do regulador.
A 3 de agosto de 2014, o Banco de Portugal anunciou a resolução do BES. O banco foi dividido em duas entidades para proteger os depósitos e garantir a estabilidade do sistema financeiro português: o “Novo Banco”, que herdou os ativos saudáveis, e o “BES mau”, que ficou com os ativos tóxicos e as dívidas problemáticas. Esse desfecho dramático trouxe à tona as fragilidades do sistema bancário português e destacou a necessidade de uma supervisão mais rigorosa e de práticas de gestão mais transparentes.
A resolução do BES teve um impacto profundo. Muitos investidores, especialmente pequenos investidores, sofreram perdas significativas.
Além disso, a queda do BES levou a várias investigações e processos legais contra antigos administradores. Estes processos ainda estão em andamento.
Julgamento
O início do julgamento do processo também conhecido como “Universo Espírito Santo” chegou a estar agendado para 28 de maio e, posteriormente, para 18 de junho, mas as dificuldades de notificação de arguidos ditaram sucessivos adiamentos.
Assim, a próxima data para o julgamento está agendada para 15 de outubro.
O julgamento do processo-crime Universo Espírito Santo vai arrancar mais de uma década após o colapso do Grupo Espírito Santo (GES), em agosto de 2014, e tem como principal arguido o ex-presidente do BES Ricardo Salgado, acusado de 65 crimes, entre os quais associação criminosa, corrupção ativa, falsificação de documento, burla qualificada e branqueamento.
Considerado um dos maiores processos da história da justiça portuguesa, este caso agrega no processo principal 242 inquéritos, que foram sendo apensados, e queixas de mais de 300 pessoas, singulares e coletivas, residentes em Portugal e no estrangeiro.
Segundo o Ministério Público, a derrocada do GES terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.
*com Lusa