Gronelândia está sob intensa disputa desde o regresso de Trump: e do outro lado do mundo, quem é que manda no Polo Sul?
O presidente do Chile, Gabriel Boric, fez história recentemente ao tornar-se o primeiro líder latino-americano a visitar o Polo Sul, o que desencadeou novas discussões globais sobre a soberania e a exploração científica na Antártida. Mas quem é que ‘manda’?
A Antártida tem sido há muito tempo alvo de interesse geopolítico, sendo que há sete países que mantêm reivindicações territoriais no continente: Chile, Argentina, Reino Unido, Noruega, Austrália, Nova Zelândia e França. No entanto, apontou a revista ‘Newsweek’, essas reivindicações são frequentemente sobrepostas e têm reconhecimento limitado sob a lei internacional. A maioria dos países – incluindo os Estados unidos – não reconhecem oficialmente as reivindicações territoriais na Antártida.
Foi ao segundo dia de janeiro que Boric chegou à Antártida para uma viagem de dois dias intitulada ‘Polar Star III’: na agenda do presidente chileno estavam incluídas visitas à Estação Polo Sul Amundsen-Scott e às instalações de pesquisa do Chile no continente. O Governo chileno indicou, em comunicado, que na delegação estavam autoridades civis e militares, além de cientistas. “Este é um marco para nós”, referiu Boric.
Embora o mundo se tenha concentrado recentemente no Polo Norte, na sequência dos comentários de Donald Trump sobre os recursos da Gronelândia, a viagem de Boric lançou luz sobre a região polar sul. A Antártida, o quinto maior continente do mundo, é a única massa de terra sem uma população nativa ou Governo independente. É governada coletivamente sob o Tratado da Antártida de 1961, que designou a região como uma reserva científica, proibindo atividades militares.
Apesar de sua governança compartilhada, sete nações reivindicaram partes da extensão gelada. A reivindicação do Chile a partes da Antártida, conhecidas como Território Antártico Chileno, se sobrepõe às da Argentina e do Reino Unido. Essas reivindicações sobrepostas estão enraizadas na proximidade e nos laços históricos, mas o tratado efetivamente colocou essas disputas em espera.
Noruega, Austrália e Nova Zelândia baseiam as suas reivindicações em explorações que datam do início do século XX. A reivindicação de França, por sua vez, deriva de descobertas do século XIX.
O Tratado da Antártida, assinado no auge da Guerra Fria, tem sido uma pedra angular da paz e da colaboração científica: com ele ficaram congeladas reivindicações territoriais e proibição à extração de recursos e operações militares, garantindo que a região permaneça um bem comum global dedicado à pesquisa científica.
Durante sua visita, Boric reafirmou o comprometimento do Chile com o tratado, enfatizando que suas disposições protegem a Antártida de rivalidades geopolíticas. “O nosso foco está na pesquisa sustentável e na compreensão do impacto global da mudança climática”, disse.
Os Estados Unidos desempenham um papel significativo na Antártida: foram uma das 12 nações originais a assinar o Tratado da Antártida em 1959 e têm apoiado consistentemente os seus princípios de cooperação pacífica e exploração científica. Hoje, os EUA operam três grandes estações de pesquisa no continente — Estação McMurdo, Estação Palmer e a Estação Polo Sul — tornando-se uma das nações mais ativas na pesquisa da Antártida.
O Tratado da Antártida vai ser revisto em 2048, um momento crucial que pode redefinir a governança do continente.
O Protocolo de Proteção Ambiental de 1991, que proíbe todas as atividades de mineração e designa a Antártida como uma “reserva natural, dedicada à paz e à ciência”, também será revisto naquela época, levantando questões sobre o futuro da exploração de recursos. Segundo os especialistas, a crescente procura por energia e água pode desafiar os princípios conservacionistas do tratado.