Gripe aviária torna-se mais capaz de atingir seres humanos: adolescente hospitalizada mostrou sinais preocupantes da evolução do vírus

Uma adolescente da Canadá que contraiu a gripe aviária H5N1, no início de novembro último, recuperou-se totalmente após uma longa batalha contra a doença: no entanto, a análise genética do vírus que a infetou revelou mutações alarmantes que poderiam potencialmente aumentar a capacidade do vírus de atingir células humanas e causar doenças graves: a descoberta, publicada na revista científica ‘New England Journal of Medicine’, levantou preocupações sobre a natureza evolutiva do H5N1 e a sua crescente ameaça à saúde humana.

Em 2024, apenas nos Estados Unidos, houve 66 casos humanos relatados, o que tem aumentado a preocupação junto dos especialistas com o potencial de evolução do vírus e as suas implicações para surtos futuros.

A paciente do Canadá, uma menina de 13 anos com histórico de asma e obesidade, chegou às urgências locais a 4 de novembro com conjuntivite e febre, indicou a revista ‘Newsweek’: após receber alta, a sua condição piorou nos dias seguintes, com dificuldades respiratórias e outras complicações – viria a ser hospitalizada a 7 de novembro, sendo que no dia seguinte foi transferida para a urgência pediátrica, com insuficiência respiratória grave, pneumonia e lesão renal aguda.

Os testes revelaram-se negativos para estirpes comuns de gripe sazonal, tendo no entanto testado positivo para influenza A e H5N1: a sua situação continuou a piorar, exigindo intubação e suporte de vida – foi tratada com três medicamentos antivirais e passou mesmo pela terapia de troca de plasma.

Após oito dias de tratamento intensivo, a sua carga viral caiu significativamente, ficando livre do vírus. Porém, o sequenciamento genético do vírus revelou mutações na variante contraída pela adolescente, especificamente a versão D1.1 do H5N1, que é intimamente relacionada ao vírus encontrado em aves selvagens. As mutações pareciam aumentar a capacidade do vírus de se replicar em células humanas, sugerindo um potencial preocupante para maior gravidade em infeções humanas.

Outros casos de infeção por H5N1 nos EUA, particularmente aqueles envolvendo vacas leiteiras e aves, mostraram a mesma variante mutante: segundo a publicação ‘Los Angeles Times’, os investigadores acreditam que essas mutações provavelmente surgiram nos próprios pacientes em vez de circular no ambiente.

“É preocupante porque indica que o vírus pode mudar numa pessoa e possivelmente causar uma gravidade maior dos sintomas do que a infeção inicial”, indicou Jennifer Nuzzo, diretora do Centro de Pandemia da Universidade Brown.

“Acho que se houvesse evidências claras e definitivas de que o vírus sofreu mutação a ponto de poder se ligar aos recetores de ligação no trato respiratório superior, ou seja, no revestimento do nariz, no revestimento da garganta, no revestimento da traqueia e, portanto, se reproduzir no trato respiratório superior, isso seria preocupante. Mas não foi isso que o relatório disse”, destacou Paul Offit, especialista em vacinas e doenças infecciosas do Hospital Infantil da Filadélfia, em declarações à ‘NBC News’.