Geringonça portuguesa pode ensinar algo a Espanha e Itália? Sim, dizem os espanhóis
«Portugal tornou-se o aluno da Comissão Europeia com maior destaque, nos últimos anos», quem o diz é um artigo do diário espanhol ‘elEconomista’, que aponta os principais motivos pelos quais os países vizinhos, Espanha e Itália, devem aprender com o nosso país.
Ainda que Portugal seja um país mais pobre (em rendimentos per capita) comparativamente a Espanha e Itália, a sua disciplina fiscal excedeu bastante a dos dois países, alcançando um equilíbrio orçamental «sem gerar um desconforto visível na população portuguesa», avança o elEconomista.
Alvise Lennkh e Giulia Branz, analistas da Scope Ratings, apontam alguns dados que justificam o «sucesso económico» de Portugal: «A estabilidade política e o renovado compromisso do seu governo em consolidar as finanças públicas, vão manter o seu índice de dívida pública numa trajectória descendente constante, ao contrário do que acontece em Espanha e Itália. O ajuste económico e fiscal de Portugal desde a crise foi incrível», reforçam.
Para além disso, acrescentam, o crescimento português excedeu a média da zona euro desde 2016, em cerca de 2,5% por ano. O défice fiscal foi reduzido para cerca de 0% do PIB em 2019, em contraste com 11,4% de 2010. A taxa de desemprego caiu abaixo dos 7%, quando anteriormente correspondia a 17%.
Os economistas salientam ainda que o défice estrutural português era de 8,5% do PIB em 2010 e está actualmente próximo do equilíbrio, em cerca de 0,4%, segundo estimativas da Comissão Europeia. O plano orçamental de Portugal para 2020 contempla um excedente orçamental de 0,2% do PIB e um excedente primário acima de 3% do PIB.
A comparação com Espanha e Itália
Depois de fazer uma lista extensa de elogios a Portugal, o jornal espanhol escreve que tanto o país vizinho como Itália deviam aprender a lição com Portugal, e ironiza, «apesar de este ser o ‘vizinho pobre’.»
É que embora Espanha tenha crescido cerca de 2%, «a persistente estagnação política impediu a implementação de outras reformas significativas desde 2015». O défice estrutural continua a ser o mais elevado da zona euro, representando cerca de 3% do PIB, com o desemprego perto dos 14%.
Consequentemente, a redução da dívida pública espanhola é significativamente mais lenta que a de Portugal e de natureza totalmente cíclica, estando actualmente sujeita a incertezas, devido «às iniciativas políticas expansionistas do novo governo espanhol», indica o ‘elEconomista’.
Itália, por seu lado, tem um longo histórico de excedentes primários e a taxa de crescimento anual do país registou uma média de apenas 0,9% nos últimos cinco anos, mantendo a relação dívida / PIB numa elevada taxa histórica de cerca de 136%. Nesse contexto, os novos orçamentos do país atrasam a consolidação fiscal, favorecendo iniciativas destinadas a apoiar o crescimento, facto que «deve originar uma trajectória de dívida bastante constante para os próximos anos».
O jornal termina a lembrar que, em janeiro, a agência de notação financeira Scope subiu o rating de Portugal para BBB+ e manteve a sua perspetiva ‘Estável’.