Fundo secreto de guerra de Moscovo de 250 mil milhões de dólares ameaça colapso económico russo, indica especialista

A Rússia tem financiado secretamente quase metade dos seus custos de guerra através de um enorme esquema de financiamento fora do orçamento que forçou os bancos a fornecer empréstimos arriscados para contratantes de defesa, potencialmente preparando o cenário para uma crise de crédito sistémica, segundo avançou esta segunda-feira uma análise publicada no ‘Navigating Russia’, boletim informativo de Craig Kennedy, ex-vice-presidente do Morgan Stanley e do Bank of America Merrill Lynch.

O esquema, lançado um dia após a Rússia invadir a Ucrânia, gerou entre 210 e 250 mil milhões de dólares em empréstimos bancários compulsórios para empresas com ligações à defesa, o que corresponde ao orçamento oficial de defesa da Rússia.

Esses empréstimos eram frequentemente estendidos a empresas com classificações de crédito maus em termos preferenciais ditados pelo Estado. “Ao contrário dos gastos do orçamento federal de defesa, que permanecem em níveis sustentáveis, o esquema de financiamento fora do orçamento da Rússia está a mostrar-se muito mais problemático de sustentar”, salientou Kennedy, especialista sobre economia russa no Davis Center de Harvard.

O financiamento oculto impulsionou os empréstimos corporativos em 71% desde meados de 2022, atingindo 415 mil milhões de dólares, o que corresponde a 19,4% do PIB: este aumento tornou-se o principal impulsionador da inflação, empurrando as taxas de juros acima de 21% para empresas regulares, o que pode criar, segundo Kennedy, as “pré-condições para uma crise sistémica de crédito”.

No final de 2024, o Kremlin ficou cada vez mais preocupado com os riscos, incluindo potenciais falências bancárias e inadimplências corporativas: o relatório sugeriu que essa vulnerabilidade pode fornecer uma alavancagem inesperada para a Ucrânia e os seus aliados nas negociações. “Moscovo agora enfrenta um dilema: quanto mais adiar o cessar-fogo, maior será o risco de que eventos de crédito – como resgates corporativos e bancários – surjam descontroladamente e enfraqueçam a influência de negociação de Moscovo”, observou o especialista.

Por último, o relatório recomendou que os aliados ocidentais mantenham posições firmes sobre o alívio das sanções, ao mesmo tempo que demonstram a sua determinação em apoiar a Ucrânia com financiamento e armas adicionais, colocando dessa forma mais pressão sobre o stressado sistema financeiro da Rússia.